terça-feira, 11 de outubro de 2011

I'm coming out

Nos Estados Unidos, Inglaterra e Suíça, hoje é o National Coming Out Day (Dia Nacional de Sair do Armário). Normalmente usamos a expressão para o ato de assumir sua opção sexual, mas eu proponho uma interpretação menos, digamos, ortodoxa. Que tal caçar nas prateleiras do fundo nossos pequenos constrangimentos de estimação, botar pra pegar sol, desamarelar, dar uma espanadinha?

Eu, por exemplo, gostava das músicas do É o Tchan. Logicamente não imitava o figurino das cadeirudas, mas que gostava da discografia, gostava. Cantarolava animadamente – e, se bobear, ainda cantarolo. É que nem giárdia, garra na gente que às vezes não sai nem com tratamento longo. Eu também tinha (perdão! perdão!) o CD da Tiazinha. Pois é, da Ti-a-zi-nha. Tudo bem que não cheguei a escutá-lo, porém ganhei o objeto de danação e não o destruí. Capaz até de ainda gravitar no lixo espacial de meu caos particular. Tenho medo, tenho muito medo de uma arrumação mais séria. Pavor que esses passados me mordam e eu precise ir correndo tomar soro.

Eu via A história de Ana Raio e Zé Trovão. Adorava. Por sinal, era apaixonada pelo Almir Sater. Nas primeiras infâncias, tive um sério lance afetivo com o Pica-Pau. Mais tarde, final da adolescência, era totalmente ensandecida por um dos Cavaleiros do Zodíaco, o Shun (e seus cabelitchos verdes). Vá lá, tinha ao mesmo tempo uma indisfarçável quedinha pelo Seiya. Mas o coletivo me redime. Quem não tinha uma indisfarçável quedinha pelo Seiya? A deusa Atena herself (e seus cabelitchos roxos) não resistia ao charme dos meteoros de Pégaso. Três ou quatro moçoilas do desenho não resistiam. Covardia.

Eu não sei passar batom – nem com espelho. Aliás, não sei passar maquiagem nenhuma; e, depois de passada (por outrem), fico tão confortável quanto o Homem da Máscara de Ferro. Não sei usar salto com mais de dois centímetros na altura e menos de cinco na largura. Não tenho orelha furada nem aguento brinco de pressão. Não sei assobiar. Não sei colocar meia-calça. Adoro usar óculos. Detesto usar Havaianas (e qualquer sapato com aquele trequinho odiento entre os dedos). “O amor e o poder” é uma de minhas músicas preferidas. Nunca tive uma Barbie. Nunca vi Cidadão Kane. Não gostava do Xou da Xuxa. Até hoje confundo esquerda com direita. Não consigo não confundir certos nomes, como Simone e Solange, Roberto e Ricardo. Sou incapaz de me localizar no espaço. Acreditei em Papai Noel até os 8 ou 9 anos. Still do. Always will.

Você que cantou com Odair José contra a pílula, você que colecionou os bonequinhos do Restart, você que se descabelou ao som dos Menudos (ou Polegar, ou Dominó, ou KLB), você que usou ombreira, você que usa calça verde-limão, você que não curte Fellini, você que não curte chocolate, você que larga livros pelo meio, você que começa livros pelo final, você que não consegue reproduzir o th do inglês, você que riu dos pôneis malditos, você que chorou cascatas em Meu primeiro amor – um passo adiante! Hora de espanar vexames naftalinados, espantar baratinhas encucantes que procriam na gente. Celebrar o lado A da falta de vergonha dançando os bracinhos em batida de “Meteoro da paixão”.

(Foi-se Compadre Washington, veio Luan. É complô. Mereço.)

4 comentários:

Anônimo disse...

HAHAHAHHA, ótimo post! belo layout, também :D Gostei muito da proposta do post e do que li, principalmente a parte do cd da Tiazinha, UHASDUHAUDHA, parabens!

Millena disse...

Aqui no Brasil o dia não funcionaria.

Lookk disse...

Oi Fernanda, tudo bem?

Realmente camisa + saia é uma combinação muito linda, eu mesma estou em busca de uma mini, mas quero bem destruidinha pra usar com minhas camisas..mas ainda nao encontrei! hehe

bom feriado
bjs
http://www.karollourenco.com.br

Sá - Pô! disse...

Ri muito alto, Fernanda! Sério mesmo, até senti vontade de fazer um post saindo do armário também! Amo seu bloguinho, amo sua forma de escrever!
Beijinhos
Sayuri