Não somos papais e mamães terceirizados, apêndices de afeto para suprir rudimentos de ação familiar. Não somos tiradores de cotovelos da mesa, fechadores de boquinhas mastigantes, fiscais de palavrão, ensinadores de com-licença-desculpe-por-favor-obrigado, trocadores de fraldas reais e metafóricas. Não somos a mão que balança o berço. Não somos Mary Poppins. Não somos Bozos, Carequinhas ou Arrelias. Não somos estepes de governanta, arremedos de babá, imitações de tia-avó, assistentes de pediatra, tentativas de enfermeiro, dublês de psicólogo, guardas de trânsito em plantão, nutricionistas de ocasião, padrinhos de empréstimo, recreadores estagiários, amigos imaginários, colegas de infância, prolongamentos da fauna caseira. Tornamo-nos, querem tornar-nos, acabam nos tornando; ser, não somos.
Não somos chão, pilastra nem parede; somos escada. Ensinamos a conquistar o teto e incentivamos a superá-lo. Não somos leite que mata as primeiras fomes; somos vitamina, complemento alimentar. Não somos pernas nem caminho; somos asfaltadores, somos placas de sinalização, somos veículos. Damos carona. Não somos bolas nem jogadores outros; somos técnicos. Não somos enciclopédias, não somos dicionários, não somos apostilas, não somos bíblias: somos manuais. Somos índices. Não somos mar, timão nem barco: somos faróis. Não somos piscina, somos boia. Somos abrigo mesmo sem ser abraço. Somos casa mesmo sem ser moradia. Não somos molde, somos espelho. Não somos forminha, somos celofane. Somos mão, confeito, tempero, balança. Às vezes fogo, às vezes sopro, gelo às vezes; jamais tabuleiro.
Jamais podemos ser religiões; no máximo sacerdotes, sempre e preferencialmente santos, melhor ainda se anjos. Não damos à luz, não damos a luz: entregamos a pontinha do novelo, o GPS para o labirinto (e a arma contra o Minotauro). Não somos magos, somos pedreiros. Não fazemos feitiço, teimamos. Não trabalhamos, insistimos. Insistimos em arrancar do barro a porcelana, o Davi que dorme no mármore, o anel prometido pela mina. Não somos (apenas) professores: somos garimpeiros. Moramos em Serra Pelada permanente, queimados, ressecados, esquecendo por uma pepita – uma que seja – a aridez do ano inteirinho.
Aos meus colegas de giz e pilot, de quadros brancos e negros, de papelada e datashow, um parabéns sem-graça, torto, amarelo, indeciso como nossos dias que terminam entre notas azuis aqui e tranquilizantes acolá. Um parabéns tristemente orgulhoso porque não somos mães, tias, avós, psiquiatras, palhaços, artesãos, médicos, vizinhos, confidentes, salva-vidas, primos, princesas. Não somos coronéis, não somos gênios da lâmpada, não somos secretários, não somos cuidadores, não somos atletas nem equilibristas nem amigos nem pais.
Somos tudo. E somos mais.
5 comentários:
ser professor é padecer no paraiso! existe muitas dificulades no caminho, mas sempre ficamos felizes quando recebemos um abraço sincero, um elogio carinhosos e um" até amanhã" professor entusiasmado!
blogestarcomvoce.blogspot.com
Eu fico pensando eu vejo nas universidades, ensinando tanto sobre a diversidade, sobre como pensar, sobre como produzir conhecimento e quando chegamos para ocupar nossas funções temos que nos sujeitar a precárias condições para poder sobreviver. Me revolta de como é a educação no nosso pais, mas é como vc disse professores são escadas e agradeço a alguns dos meus pois foram meus maiores incentivadores depois dos meus pais :)
Passa pela Educação a construção de um país mais justo e menos desigual.
Parabenizo os professores nesta data e por todas as outras também.
Abração do amigo "Calcanhar".
http://soucalcanhardeaquiles.blogspot.com
Pois é Fernanda!
Ser Professor hoje em dia é ser malabarista... o descaso com os profissionais da área da educação é tanto que os cursos de licenciatura estão desaparecendo!
Parabéns pelo nosso dia!!!Bjks
Professores são mestres que levamos para a vida toda...
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