sábado, 29 de outubro de 2011

Pegar carona nessa cauda de cometa

O mundo anda cinzinha que dói: ele escancara uma porta colorida como o armário de Nárnia. Chovendão em pleno sábado: ele e você acampam gostosamente debaixo das cobertas. Travessia na barca Rio-Niterói: ele é o passatempo almofadado que ensolara a viagem. Ônibus: também. Metrô: também. Avião: também. Férias na montanha: duvido resistir a pegar uma lareira com ele. Enem no sábado, concurso no domingo: quem mais senão ele para servir de chocolate mental? Insônia: nem com canela um leite quente o supera. Feriado nacional: ele é a luz no fim do programa. Apagão: o programa no fim da luz. Lanterninha salva.

Ele é o sinal de civilização que nos pega no colo, o calhamaço estético que nos educa, a psicologia universal que nos cria. É a cultura que primeiro nos embala. É a arte que de cedo nos cativa. É o mais velho amigo de nossas escolaridades, símbolo das conquistas inaugurais. É a fonte que chove dados, gritos, rimas, ritmos, lamentos, espelhos, memórias, sons. Lutas, pontapés, prazeres, exemplos. Principalmente exemplos. É a janela com vista pro mundo, escotilha da História. E submarino na História. É barco que nos mergulha no alheio e foguete que nos alça ao particular. É bruxo, vampiro, lobisomem que nos dá alternativas ao ser, que nos toma facetas pela mão. É pau, pedra, fim e início de caminho. É empréstimo de sonho, é filial de vida. Reinauguração de vida. Divã.

É hoje, no Brasil, o dia dele. Dia Nacional do Livro. Dia do amante insubstituível de nossas agonias e imaginações, alma gêmea dos coraçõezinhos incompletos (e há completos?). Dia do objeto introcável por qualquer que seja a tecnologia insípida e inodora. Dia do amigo que nos acarinha e acarinhamos folheando, amassando, cheirando, marcando, sublinhando, espremendo nas almofadas, esmagando no travesseiro. Dia do nosso favorito brinquedo de pensar, nosso mais sofisticado jogo de viver. Nossa mais polpuda realidade virtual. Dia de banhos de mar em Pasárgada, machadices com torradas na Colombo, bolinhos de Nastácia no Sítio, turismo no centro da Terra, compritas em Hogsmeade. Dia de nova infância e pré-morte, desse tudo-ao-mesmo-tempo-agora que bebemos no supermercado dos outros. Dia de esconde-esconde em nebulosa, sem voltar pra casa. Dia de fazer casa em nosso lindo, maior, balão azul.

4 comentários:

Bruno Costa disse...

O que seria de nós sem eles. Ontem mesmo comprei dois, "Metamorfoses", de Kafka e "AS Horas", de Cunningham. É a plena criação de outros mundos possíveis. Valeu a homenagem. Parabéns.

Andy A. disse...

Esse dia deveria ser muito mais divulgado . Livros saõ insubstituíveis ...
http://andyantunes.blogspot.com/

Unknown disse...

livros sempre trazem algo de novo para a nossa vida! nos inspiram, emocionam, encantam e divertem!
blogestarcomvoce.blogspot.com

Matheus Laville disse...

Nossa imagem do pequeno príncipe...