24 horas após nossa formatura, há nove anos, o mundo celebrou o primeiro Dia Internacional da Paz. É hoje: dia de abraçar árvore em manifesto feliz, de vestir camiseta alvejada (por Omo, não por bala perdida), de pousar as mãos em forma de pomba para postar foto engajada no Face. Melhor ainda se dia de abraçar vizinho em manifesto feliz, de vestir intenções transparentes, de se postar em forma de pomba para pousar onde quer que seja. Hora de ser menos o que desejamos e mais o que pretendemos.
Tomemos a pomba, a propósito. Só pela alvura é que foi promovida a símbolo da paz? É de crer que não. Se o leitor conhece a saga de Noé, lembrará que o patriarca enviou o bichinho para sondar a quantas andava a Terra no pós-dilúvio. Eis que, em belo dia, volta um ramo verde no bico do mensageiro. O sinal esperado: há vida após a catástrofe, há o que curtir e colher mesmo no território mais apodrecido de má chuva. É provável que a penugem não tenha passado incólume ao barro excessivo, que tenha mais ou menos emporcalhado a brancura simbólica. Não importa. Embaixadores da paz não ligam para sujeiras laváveis, provisórias, que maculam fora sem ferir dentro. Vão direto ao assunto: vasculhar o tesouro, garimpar a riqueza, chafurdar até a última renúncia necessária para não se reacomodar na programação normal sem a medalha de um raminho verde.
Embaixadores da paz não aceitam lama como resposta. Chateiam, insistem, escarafuncham, mergulham cegos na crença de uma vida que não veem, polianamente enxergando o essencial sob a casca (às vezes nojenta). Médicos que se recusam a desenganar, diplomatas que se dispõem a ouvir, voluntários que teimam em oferecer, vítimas que se negam a julgar, eleitores que resistem a anular, revoltosos que não concebem destruir. Gente que não acata como decreto a impressão ruim, que não se afeiçoa aos próprios maus impulsos. Gente que não cede a si mesma.
Hoje (em cada “hoje”), sejamos menos o que desejamos e mais o que pretendemos. Questionemos instintos, indisponibilidades e nãos. Questionemos preguiças e vontades. Paz não se faz com vontade: faz-se com a decisão que gentilmente a supera. Começa na bandeira branca; termina, muito melhor, na bandeira rasgada e enlameada de quem preferiu abandonar-se a abandonar a paixão de sua ideia, sua fé, seu gol, sua convicção, sua finalidade, sua esperança, sua espera – sua amostra de vida, sua ponta de iceberg, sua prova de vitória, sua resposta.
Verde.
4 comentários:
Jamey Rodemeyer tinha 14 anos. Na manhã da última segunda-feira, seus pais o encontraram morto. O garoto faleceu em decorrência de um suicídio.
Mas, diariamente, ele era crucificado simplesmente por ser como era.
Descanse em paz verdadeira, Jamey. A paz que vivemos aqui na Terra é falsa.
Interessante o post, mais .. que a adianta enquanto alguns quer paz, outros por que foi ultrapassado no trânsito ou por que houve um arranhão desce.. e mata pai de família aonde tudo pode ser conversado.
infelizmente o povo ta com raiva
Sim... mas às vezes, pra que funcione, temos de ser viscerais. Falar a língua em que as pessoas prestem atenção, e nem sempre é a nossa. Abs!
Para alcançarmos a paz precisamos sair dos vícios para as virtudes. É isso que o evangelho ensina.
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