segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Lanterna mágica

Descobri algo interessantíssimo sobre o 26 de setembro, mais especificamente em sua edição de 1909: foi inaugurado o cinema mais antigo do mundo, chamado Kino Pionier (Cine Pioneiro), na então cidade alemã de Stettin – atualmente, a polonesa Szczecin. Hoje aniversaria, portanto, uma das maiores invenções da humanidade. Não a sétima arte em si, mas seu templo. A nave que nos aterrissou em Pandora, Metrópolis, Tatooine, Dogville, Pleasantville, Sin City, Gotham City, Hill Valley, Marte, Oz, Hogwarts. A cápsula que nos materializou em 1984 e 2001, que nos entrou de gaiatos no Pérola Negra e na Enterprise, que nos odisseiou ao lado de Ulisses e de Hal 9000, que nos abriu os olhos com Normas Raes e laranjas mecânicas, que nos esmagou com dentadas de T-Rex e lustres da Ópera de Paris, que nos confrontou com Freddy Krueger e Baixo Astral, que nos desafiou com Excaliburs e Hattori Hanzos, varinhas e sabres de luz. Que nos apresentou a sociedade, o anel, as duas torres (caídas), o retorno do rei (Arthur). Que nos colocou para cantar na chuva, procurar Nemo, brincar nos campos do Senhor, discar M para matar e não chorar por mim, Argentina. Que nos desceu ao magma e nos subiu a Asgard. Ele: o portal, o navio, a batcaverna, o hall da justiça, o salão oval, a sala secreta. O cinema. Para cinéfilos do mundo inteiro, devia haver decreto de feriado obrigatório.

Não adianta: podem vir com baixação pela internet, com locadoras físicas e virtuais, com HBOs 1, 2, 345, 6.789. Não ligo. TV e computador não são lugar de ver filme – ao menos não pela primeira vez. Não pela primeira vez, se já se estava vivo e consciente quando o dito-cujo foi exibido em circuito. Claro, incompatibilidades de horário acontecem. Há perdão previsto para os que ralam dentro e fora de casa. Mas cinéfilo que é cinéfilo não passa mais de mês e meio sem dar um jeitinho de fugir para o primeiro Kinoplex ou Estação. Cinema não é cumprimento de dever, desincumbência da obrigação de assistir a um longa. Cinema é ritual, é experiência – social, inclusive. Envolve cheiro amanteigado de pipoca, escolha de lugar, bala de hortelã, trailer, escuro, legenda, som que parece vir do útero, circundando a sala toda. Envolve um ou outro ssshhhh para o herege que conversa, um ou outro comentário de -1 decibel no ouvido do amado, mão dada, combo partilhado, lágrima descoberta, riso dividido. Filme não é coisa de ver, é coisa de provar – e nada melhor do que uma estufa que nos arranque física e sensorialmente do comezinho, que nos sequestre de tudo o mais, para só depois de duas horas nos devolver ao velho mundo. Mas com a sensação de que não estamos no Kansas anymore.

Cinema não comporta DR, palmas, assobios, gritinhos, pai explicando para filho, filho explicando para pai, narrador de plateia, papo ao celular, luz de celular, aporrinhação, trabalho, sono, pressa, radinho, mp3 e – me desculpem os preguiçosos – dublagem (a não ser em desenho animado, olhe lá). Vá que seja a maior diversão; mas é mais. Aquela obra passando ali na frente exige a mesma reverência, entrega e inteireza que se tem a um amigo ou um Monet. E a mesma disciplina de um aeroporto. Estamos, afinal, na única sala de embarque ora possível para a maioria das galáxias muito, muito distantes. O recinto que tem a exclusiva função de nos exportar a alguma espécie (a cada espécie particular) de infinito.

E além.

5 comentários:

Anônimo disse...

Muitoooo bom!

quiser parceria so avisar: www.sem-nozes.blogspot.com

Yuri disse...

Bem loko teu blog! Foda o jeito q tu escreve!

Mas sabia que eu não curto cinema? Prefiro ficar no DVD e alugar!

Lillo G. disse...

NÃO HÁ NADA MELHOR DO QUE O BOM E VELHO CINEMA NANDA. COM CERTEZA É LÁ QUE ENCONTRO MEUS CONTERRÃNEOS LOBISOMENS ARTISTAS.

LEIAM E COMENTEM A MINHA VERSÃO DA CHAPEUZINHO VERMMELHO.
http://thebigdogtales.blogspot.com/2011/09/chapeuzinho-vermelho-versao-lillo.html

Cris Marcelino disse...

Adorei esse seu texto ,sério mesmo !!!

PATY disse...

Cinema sempre é o melhor lugAR ...
meu programa fAVORITO...
quando alguem quer uma companhia para ver um filme
lembra sempre de mim