sábado, 10 de setembro de 2011

Live and let live

Segundo a ONU, hoje é o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. Nome insólito. Até onde sei, suicídio não se transmite por contato sexual, sangue, saliva, alface contaminada ou carne cruinha. Não tem vírus, não tem vibrião. Não tem um mosquito desgraçado que, verão após verão, mostra a língua pra gente enquanto tentamos acabar com todas as suas gerações, per secula seculorum. Tem uma tristeza desoladora, isso sim. Pode-se prevenir uma alminha saudável de se emporcalhar com esse desespero tão fundo, essa dor tão maciça, essa perda tão completa de alternativas que leva ao suicídio?

Pode-se – pelo menos em parte. Em tese. Um pouco.

Não temos o poder de evitar que alguém mergulhe em depressão após ter perdido a casa, o filho, o marido. Correto. Mas ainda somos capazes de colocar compressas, de estar presentes, de permanecer disponíveis, tão presentes e disponíveis que talvez alguma partezinha daquele interior enlutado recomece a se comover com a vida. Talvez reabra (sem saber) um arquivo supostamente deletado, reponha para rodar um programa que trabalhe em silêncio. É possível que, um belo dia, surja a caixa de diálogo questionando: continuar a viver? sim? não? – e o coração enlutado clique serenamente na primeira opção, pensando sem pensar que ainda há pretextos para uma segunda chance. Podemos ser os candidatos, os exemplos, a boca de urna, os distribuidores de santinho, os fazedores de campanha da segunda chance, ainda que não seguremos na mão o controle de mais nada.

Já ajuda se não formos os antipropagadores da segunda chance. Se não formos nós mesmos os esmagadores de alma. Se não convencermos uma criança, desde o primeiro soco ou desde o primeiro sim, que o mundo é um poço de frustrações ou uma redoma isenta delas. Se não persuadirmos os espíritos mais quebráveis a acreditarem em suas paranoias. Se não formos o Saara para quem precisa horrivelmente do locus amoenus. Se não formos risada de bruxa num universo já repleto de gritos. Se não bancarmos o Freddy Krueger para quem já está miserável de sonhos.

OK, suicídio é ato exasperado que, vez por outra, cresce em surdina até consumir-se e consumar-se. Acontece (embora costume haver migalhas de pão marcando o caminho, sinais que, distraidíssimos, não pescamos). Mas definitivamente não precisamos ser o comburente desse incêndio. Não precisamos ser um dos chutes que demolirão o andaime. Se não der ou não couber ser a lanterna que corre atrás e fica em cima, bom auxílio já presta quem fica firme, fixo, em constância reconfortante de farol. Sendo ao menos a luzinha no fim do luto.

6 comentários:

Andy A. disse...

Uma simples palavra ou gesto pode ajudar alguém em depressaõ , pois ás vezes é disso que precisam ... adorei o tema do posr .
http://andyantunes.blogspot.com/

Wellington disse...

Suicídio é algo realmente triste pois como a sociedade abandona uma pessoa a ponto de tentar algo assim né?! Eu que busco amigos geralmente encontro pessoas querendo me levar para o buraco. E isso é muito fácil. Para tudo de errado há sempre alguém disposto a derrubar mas para ajudar alguém a manter-se bem, saudável, feliz é bem raro! Mas, eu sou um dos que sente felicidade em apoiar as pessoas independente de como ela se encontre afinal ao ajudar sinto-me muito feliz!

Parabéns pelo post! =)

Grande abraço!

http://neowellblog.wordpress.com/

Ítalo Richard disse...

Gostei muito do texto, bem escrito e o tema é bem interessante. Histórias de suicídios são sempre macabras, tristes e muitas vezes inaceitáveis. Só quem sofre da depressão, quem vive na fronteira dela, ou mesmo quem convive com alguém nesse estado é que conhece a angustia e o amargor desse sofrimento. Infelizmente nem todos sabem lidar com algumas situações que a vida impõe, ou não tem o lado emocional forte.

ótimo texto, abraço,
www.todososouvidos.blogspot.com

João V. Alves disse...

Retribuindo a visita. Convivo com alguem que tem depressão, é muito triste. Me segue também.

http://www.paradigmasdaspalavras.blogspot.com/

Dicas e Mulher disse...

muito bom o texto!!

beijos

Blogueira disse...

Gostei do texto. Suicidas são silenciosos como a hipertensão: Quando menos se espera, explodem!