terça-feira, 20 de setembro de 2011

Não nos afastemos

Hoje faz exatos nove anos de minha formatura. De nossa formatura (Fábio e eu realizamos juntos a travessia). Já nove anos? lorota do calendário, foi ontem, anteontem no máximo, tão fresquinhos ainda estão os bancos amarelos da faculdade. Nossos bancos amarelos de gargalhadas que duravam 828 horas. Fazíamos sete, dez, doze matérias e dávamos conta, mesmo entre conversas esparramadas nos bancos amarelos. Que é daquele dom esquecido de multiplicar o tempo?

Que é daquela minha turma de universidade? Minha turma era o cara. Conjunção astral, alinhamento de órbitas irrepetível. Os professores nos amavam, deliciosos que éramos. Panelas menores (obviamente as havia) não comprometiam a misturabilidade do todo. As gatinhas de Niterói, as reservadas, as relações-públicas, os pops, os cabeças, os ultracabeças: o grupo. O grupo que enfrentou greve, RID, SAID, trote, latim, barroco, banheiro sem porta, bolsa sem aumento, vinte (e poucas) rampas diárias. Que temeu de morte o professor de Cultura Portuguesa, que jurou de morte o de Linguística pelas provas extraviadas, que decorou o número de sinos do Convento de Mafra, que imitou sapo, que se vestiu de bruxa, que se encontrou no Queijo, que se embecou na ABL. “Tão jooooooooooooovens...”

Somos tão jovens, insistentemente. Ainda que casados (quantos casaram?), ainda que responsáveis por outros jovens (quantos nasceram?). Com uma falha gravíssima: somos jovens em separado. Sem salas conjuntas, sem elevadores simultâneos, sem corredores divididos, sem as mesmas 7h da matina com o mestre de Literatura nos fulminando pelo atraso, sem as mesmas 18h infestadas de bichinhos da luz. “Não nos afastemos”, dizia drummondianamente nosso convite, “não nos afastemos muito”. Pena: a linha do tempo não concorda. Teima que a vida siga, que estranhamente mudemos, que passemos pelo compulsório fenômeno de continuar existentes. Existentes da maneira atrapalhada, ininterrupta que nos calha.

Desde já me demorarei sonhando com a festa de dez anos que talvez não realizemos, com a conversa de gala que dificilmente marcaremos, com a tentativa de reunião que esbarrará em distâncias de municípios, de folhinhas, de creches, de expedientes. Sonharei apesar de. Com cabeça-durice bastante para amofinar alguns colegas dos primeiros raios de janeiro aos penúltimos de setembro. Não dará certo; não fará mal. Vou seguir a estrada dos bancos amarelos todo aniversário, feliz que voltas ao lar dispensem lugar.

Felicidades, turma de 2002. Afastou-nos uma quase década, não nos afastamos: continuamos indo de mãos dadas.

12 comentários:

Diva Déa disse...

Que lindo, amiga! Deu até saudade daqueles tempos! Sim, bons tempos aqueles... Quantos micos intermináveis naquelas rampas, quantas gargalhadas por esses micos, quantas paixonites desencontradas, quantos seminários, quanto bate-papo feliz pelos corredores, quantos professores horrorosos e quantos admiráveis...
Bem, pelo menos, a linha do tempo me permitiu manter junto a mim os que mais próximos me eram na facul, os que me ficaram "amigos para sempre". Também drummondiando, "de tudo ficou um pouco".

Fabio de Castro disse...

Nove anos. Amanhã, segundo sua cronologia, dez.
Há nove anos eu me nascia. Minha filha nascia. Eu re-existi. Eu sou.
Li, emocionei-me. Obrigado Fernandinha. Para que dizer mais se minha memória povoa. Por lá voa. Foi, não foi. Não era príncipe. Virei sapo. E gostei.

JefersonSantos_ disse...

nossa muito bom, lendo seu texto me fez relembrar muito da minha infância..
muito obgd por me trazer isso!

http://www.diversao-web.com/

Marcio Palhares disse...

Senti um pouco de inveja ao ler teu post. Estou fazendo faculdade e não tenho uma turma tão unida. Acho que você se formou em Letras ou Literatura, eu estou cursando Direito. E Direito, por ser um curso "pop" (muitos cursam sem vocação), não tem um ambiente tão estimulante. Ou talvez, por já contar com 30 anos, eu não tenha o mesmo espírito para me relacionar de antigamente, hehe.

Abraços.

Tati disse...

E não é que seu post serve para mim?! Eu também terminei a facul em 2002, e depois da formatura, em março de 2003, tudo ficou ausente... coisas imensamente aconteceram, mas as pessoas que por cinco anos, dividi o meu dia-a-dia, já não sei tanto o quanto sabia antes!

Lina Vieira disse...

Ah, os bancos amarelos....
(Nove anos? Não foi semana passada?)
Beijos!

Fernanda Freitas disse...

Nossa, Fernanda, quanta emoção! Só quem É UERJ sabe do que você está falando. Também vivi tudo isso. E que saudade...

Tataah disse...

Nossa qe textoo lindooo *-*
Parabéèns, me feez lembrar de tanta coisa!!!

Atualizadooo.. Dá uma passadinha lá, vaai gostaaar!
http://echidellanima.blogspot.com/

Jeh Pagliai disse...

Olá :)

Nossa, parabéns!
Infelizmente, por menos que queremos o tempo se encarrega de encaminhar cada um para sua estrada!
Cada um segue seu caminho, mas só os melhores amigos continuam sempre ao nosso lado...

Beijinhos

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www.jehjeh.com

Marcia disse...

Oi, Fernanda, aprecio, em silêncio, suas crônicas desde o Ultramuito, mas não pude deixar de comentar essa lembrança da nossa história na UERJ. Não sei como conciliávamos 10, 12 matérias com estágios, cursos, congressos (acho que nunca mais serei capaz de me multiplicar desse jeito rsrsrs), mas o fato é que conseguíamos lidar não só com o tempo, mas também encontrar entusiasmo ( e coragem) para elaborar seminários inesquecíveis com direito a encenações, sessão pipoca e até um misto de funk e poema modernista. Nossa turma era realmente ímpar. Também vou torcer (e me esforçar) para que, no nosso próximo aniversário de formatura, a gente volte a se encontrar... Bjs.

#SemNozes disse...

Mt bom o texto. Tá de parabens!

Boas lembranças que tive agora.

Abraço.

#SEMNOZES - www.sem-nozes.blogspot.com

Andréa Ramos disse...

Que lindo texto, Fê!
Doces lembranças... O passado não volta, eu sei. Nem quero! Não sou saudosista, mas essa época mostra muito do que sou hoje. Obrigada por permitir que eu reviva parte da minha história nessas linhas!
"Não nos afastemos". Nós não nos afastamos! "De mãos dadas", talvez, não estejamos mais, porém, quando alguém fala 'dos tempos da faculdade', não há como não nos lembrarmos (com sorriso nos lábios) de todas as aventuras que passamos JUNTOS. Se há algo que me orgulho da época da UERJ é a nossa turma. Dá licença, a melhor turma!
E eu acho que deveríamos, sim, tentar marcar um encontro de comemoração. De nove anos? De 10? 11? Todos irão? Alguns muitos? Alguns poucos? Não sei, mas vamos tentar, mais uma vez, caminhar juntos, de mãos dadas. Beijos a todos!