quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Verdes e amarelos

Felizmente nunca recebi descarga de raios gama nem carrego herança genética de monstro Marvel. Não fosse assim, mil vezes já tinha ficado verde, rasgado a camisa e botado para quebrar de ver as canalhices mais assassinas serem recompensadas com imunidade parlamentar, liberdade condicional, indulto de Natal-Páscoa-aniversário-Dia-das-Mães-Dia-do-Telefonista-Dia-do-Ursinho-de-Pelúcia. Mil e mais mil vezes já tinha ficado verde, rasgado o vestido e tocado o terror por contemplar incêndios criminosos que destroem patrimônios naturais, turistas que são recebidos com bueirada na cabeça, alunos que se revoltam quando você vai dar aula, celulares (melhores que o meu, ô!) que passam trote da cadeia. Mil e mais mil e mais mil vezes já tinha ficado verde-esmeralda-amazônico perante bondes com seis vítimas, tiroteios com vítimas de seis anos. E bandidos que vencem, e bandidos que riem, e bandidos que enriquecem. E juízes eliminados, e honestos amordaçados, e denunciantes perseguidos, e leis desaplicadas, e regras desconhecidas, e direitos ignorados, e deveres invisíveis, e passeatas inaudíveis, e manifestações simbólicas, e intenções iníquas, e greves inócuas. Mil, mil, mil, mil vezes já tinha ficado verde por cada verdinho desmatado, derrubado, incinerado, subestimado. Cada vidinha jogada no esgoto. Cada esgoto jogado no rio. Cada rio jogado na seca. Cada seca jogada na outrora Terra das Palmeiras, Pindorama verdíssima da cor que – por felicidade? – ainda não consigo ter.

Não consigo ter e por isso não quebro, não rasgo, não xingo, não chuto. Porque tenho (temos) a coisa complicada chamada vida particular, não luto. Eu e nós. Não pomos a cabeça a prêmio delatando, não perdemos horas de expediente pesquisando, não podemos abrir mão do pagamento diário paralisando. Abominamos entrar em fria, adoramos panos quentinhos. Adoramos entrar em fila, abominamos planos políticos. Reclamamos em casa, no prédio, no ônibus, na rua, na chuva, na fazenda – não na urna. Não estudamos voto: anulamos. Não analisamos candidato: arriscamos. Não infernizamos eleitos: esquecemos. Não mandamos um único mail por dia para questionar promessas quebradas de campanha. Não visitamos um único site para averiguar patrimônios declarados. Não organizamos um único panelaço. Não participamos de um único protesto (não-simbólico). Não enchemos o saco de ninguém que interesse, não nos interessamos por ninguém que resolva. Aliás, resolver não interessa. Importa resmungar no cafezinho, gritar no deserto do elevador, comentar falcatruas na portaria, dizer que-absurdo entre dentes, acusar fulanos entre amigos, repassar suspeitas entre aspas. Ser brasileiros entre parênteses.

Verdes não ficamos. Amarelões somos todos nós.

6 comentários:

Belinha disse...

Um blog maravilhoso!!!

Ai vem so uma frase que pais é este
E porra de um brasil, sem justiça desigual..
um pais que enorme terreno a ser alugado chega ser um terreno abandonado deveríamos ter deixados com os índios

Anônimo disse...

Uma dica. Troque esse tema, está meio complicado para fazer uma leitura, força a vista algumas coisas. :T

kbritovb disse...

excelente texto
muito verdadeiro também

Lane disse...

Esse foi um grande bravo de revolta, muito bem escrito, muito bem expressado!

Diva Déa disse...

Ótimo texto, amiga. E é isso mesmo, somos brasileiros e não resistimos nunca, apenas aceitamos. Que m...

Vanessa Ponzoni disse...

Deveriamos sair quebrando tudo!!! Soh assim para alguem notar a revolta pq de resto passa tudo batido! "REVOLTA"