Outra notícia – menos científica e mais bem-humorada – me chamou a atenção na semana. Durante quatro dias este mês, foi testada uma ideia curiosa numa loja da Ikea em Sidney, Austrália. A rede de móveis criou uma espécie de “creche” onde as mulheres podem estacionar seus acompanhantes masculinos enquanto demooooram nas compras. O espaço, batizado de Manland (“terra dos homens”), foi recheado de brinquedinhos: videogames, televisão, totó, máquinas de pinball. E hot dogs gratuitos! Após trinta minutos de recreio, um alarme toca no aparelhito que as moças recebem da loja quando deixam seus marmanjos na “garagem”. Hora de resgatá-los. Vem, diz tchau para seus amiguinhos, amanhã você volta.
O que achei? Achei fantástico. Pessoalmente nem tenho do que reclamar: o Fábio é um ser evoluído. Não se impacienta nem bufa com as minhas longas, meticulosas escolhas (eu é que, constrangida de fazê-lo esperar, evito compras acompanhada para poder chafurdar na indecisão mais à vontade). Mas me solidarizo plenamente com as senhor(it)as que arrastam azedumes pelo shopping, e me solidarizo plenamente com os rapazes que entram em estado de hibernação nos sofás das butiques. Ninguém merece. O que leva mesmo um casal a acreditar que horas de flagelação a dois são mais construtivas que uns momentos de saudável eu-sozinho?
Defendo, inclusive, que as possibilidades se ampliem. Um espaço feminino em estádios de futebol, digamos. Tudo bem, é bacana ter essa experiência antropológica vez por outra; se a rapariga não for fanática, porém, e se o jogo estiver num zero a zero tartaruguento contra o XV de Goianditubiara, por que não dar uma folga para a coitada aproveitar meia horinha do segundo tempo adiantando a manicure, fazendo massagem, yoga, hidratação, ergométrica? Outra: numa festa de quinze anos regada a funks com dor de dente, cantilenas Miley-Jonas-Bieber e trilha Rebelde, por que não uma salinha-oásis (com DJ particular) para papais e mamães dançarem o que interessa? Estacionar apenas crianças onde elas não nos perturbem – e não as perturbemos – é reflexo de um mundo injusto.
Entenda-se: não sou porta-voz da segregação. Extremamente ao contrário. Longe de mim pregar que marido e mulher, pais e filhos, primeira e terceira idades morem cada qual em seu quadrado, cada qual na jaulinha particular do zoológico, encontrando-se eventualmente na mesa do almoço. Acredito como ninguém em misturas, uniões, aprendizagens mútuas e novas experiências. Mas também acredito como ninguém na negatividade do grude, na opressão dos eventos forçados, no terror dos programas obrigatórios em que ressentimentos – longamente confinados no quartinho – acabam explodindo onde fazem maior número de vítimas. Impossível massacrar individualidades sem que virem bombas atômicas. Melhor desarmá-las por antecipação, dando-lhes seu próprio sossego e respiradouro.
Melhor é cultivar liberdades antes que o parceiro chegue à metáfora: até prisioneiros têm direito a seu banhozinho de sol.
9 comentários:
kkk
Muito bom!!
Muito bom que belo blog, parabéns
Melhor que eles nos esperem em casa mesmo..rsrs!
-
http://a-corujinha.blogspot.com/
Hahahahahahaha!!!!
Muito bom!!
Meu maridinho ia amar!! Ele deteeeeeesta fazer compras comigo, eu até já vou sozinha, haahahahah!!!
poxa! que situação!!!!!!!!!!!!!!
abs
po isso é uma moda q devia pegar hehehe
enquanto as mulheres torram o cartão o credito nós precisamos dum point pra jogar algum game, bater um papo, tomar uma cerva bem gelada e tal
A ideia não e ruim, mais espero que tenha sido as próprias mulheres a pagarem a conta das compras.
Adoro ler seus textos...muito bom!!
Olá, fazia um tempinho que eu não passava por aqui!
sempre mto legal a leitura!
bjos
até breve
http://joycebc.blogspot.com
Postar um comentário