
Não é que Paris já não fosse Luz, raio, estrela e luar antes de 1889, quando foi inaugurada aquela dama de ferro. Era. Poetas flanavam, modas se instituíam, brasseries e dançarinas de cancã tentavam o juízo, amores se entabulavam com alegria e desespero. A vida já era feérica, tumultuada e suavíssima às margens do Sena; para lá já fugiam meninos de excelentes famílias e intenções péssimas, mademoiselles a buscar o melhor do enxoval ou o pior dos abraços. Mas Paris poderia ser Paris, de fato e direito, sem um troféu que assinalasse sua condição de Éden construído? poderia ser a afamada e delirante Paris sem o dedinho erguido ao alto como quem diz “sou eu”? poderia ser a lua de mel de tantas luas e méis; poderia ser a paladina eterna dos românticos sem sua espada apontada para o céu; poderia ser tão majestosa e esparramada madame sem sua filha mais dileta ali, de saia aberta e corpete justo, em trajes sorridentes de Moulin Rouge?
Paris sempre foi Paris, mas nunca foi tão Paris como a partir do instante em que um monumento se ergueu à sua parisice incontrolável – e a fez eleita por todos os séculos. Subiram a torre de ferro e a de espírito, a real e a imaginária, a visitada e a sentida: a estrutura palpável que beija a cidade e o rótulo permanente que nela se grudou. A criatura projetada para honrar o centenário da Revolução Francesa revolucionou a França pela eternidade. O edifício aproveitado como antena de rádio transmitiu Paris pelo mundo. A nave pousada no Campo de Marte trouxe amores planetários à Cidade Luz.
Que me resgate, capte, rapte e abduza para si no meio de qualquer momento, sem previsão jamais de retorno. À volonté.
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