
Propostas cinematográficas são bacanérrimas e fazem a gente crer em cinderelices – o que é mau. Digo: é bom crer em cinderelices, desde que as saibamos impossíveis. Desde que acreditemos apenas no perfume de fé que deixam, na predisposição de felicidade. Excelente coisa é que o casamento inicie da maneira mais romântica; péssimo, entretanto, que todo esse aparato seja condição sine qua non para uma noiva amada e satisfeita. Há as proposals tímidas, realizadas atabalhoadamente num bilhete, num dar de mãos no cinema, num ônibus, no metrô; há mesmo as jamais feitas, as subentendidas, que vão crescendo junto com a relação até o ponto em que os futuros noivos simplesmente as constatam: então a gente vai se casar, né? é. E permanecem unidos e unos por 220 anos, até que a morte os una mais ainda; confundidos um no outro, indeléveis. Pouco se lhes dá que a Proposta tenha ou não envolvido borboletas e balões, que a cerimônia tenha ou não sido disputada por paparazzi. Foi casamento comme il faut. Aquele em que o casal não lembra o que é “não pertencer” – em todos os bons sentidos.
Dicas para uma Proposta eficiente? aqui vão. Eu te proponho que a gente, embora no maior esforço (ou antes por causa dele), aplaine nossos orgulhos e abrace no outro não só o de sempre como o de nunca, não só a praxe como a surpresa. Eu te proponho que a gente brinque de igualar as necessidades, ao menos quatro vezes por semana e de coração integral. Eu te proponho que a gente sonhe viagens jamais bastantes e, sabiamente, junte dinheiro e alegria para as possíveis. Eu te proponho que a gente enlace as famílias num Natal contínuo, que a gente crie os guris acreditando em Papais Noéis, fadas, Brasis melhores e submarinos amarelos, que a gente troque ao mesmo tempo lençóis e toalhas, que eu lave pratos e você enxugue, que eu traga a ideia e você se anime (ou me pouse), que eu levante a bola e você corte. Eu te proponho que a gente seja uma amizade, uma gangue, uma peça de Shakespeare, um filme de Tim Burton, uma sinfonia de Beethoven – a Nona. Eu te proponho como no “Substância” de Guimarães Rosa: “Você (...) quererá, a gente, nós dois, nunca precisar de se separar? Você, comigo, vem e vai?”. E você terá respondido como no “Substância” de Guimarães Rosa: “Vou, demais”.
Ou eu te proponho não dizer nada, seguirmos juntos a mesma estrada. Tudo lá dentro já da gente, de coração ajoelhado. Até que a morte nos una mais ainda. Irmos – demais.
Um comentário:
Lindo, lindo. Sem mais.
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