Antes do mais, aviso aos revisores de plantão (cujo dia hoje comemoramos, viva!) que não há falha no “porque” do título. Fica juntinho por responder à dúvida cruel de Galvão Bueno durante a transmissão do jogo Barça X Milan: o motivo de Messi, numa falta igual à cometida por outrem, não ter levado igual cartão. “É porque o Messi é o Messi?”
Porque o Messi é o Messi – bingo, Galvão. Porque nossa legislação, interna e externa, obedece à regra da produtividade. Porque nossa justiça, oficial e oficiosa, segue a tendência dos sistemas de milhagem: sempre a reunião de informações pregressas, sempre um acúmulo de passados, em lugar da análise desapaixonada de um qualquer presente. Porque nosso olhar é vestido de simpatias perigosas. Porque nossa consciência se bota à venda por preferências suspeitas. Porque nosso julgamento se flexibiliza alegremente ante um histórico de bônus. Porque nossos pesos e nossas medidas correspondem sentimentalmente a nossos respeitos e gratidões armazenadas. Porque nossas emoções prévias se sobrepõem à situação momentânea, nossos veredictos se antecipam ao júri, nossos argumentos correm à frente dos fatos. Nossa lovística ultrapassa a lógica.
Porque aquele alunito sempre foi o primeiro a oferecer-se nas respostas, o primeiro a elevar-se nas notas, às vezes o único a dispor-se nas tarefas, perdoamos sem senões o caso de plágio flagrante, de cola desavergonhada, ou o soco que tirou sangue de um nariz menos esforçado. Porque aquele filho sempre foi o mais largamente carinhoso dos irmãos, mentimos em tribunal para salvá-lo da condenação por roubo. Porque aquela amiga sempre foi a mais grudada das quase irmãs, preferimos terminar com o namorado novo a crer que são calúnias as alegações despeitadas contra o pobre. Porque o réu é primário, vemos com tolerante leveza, beijitos e promessas de não-faço-mais o fato de ter dirigido bêbado e atropelado 57 pessoas na calçada. Porque o criminoso tem o verdor da adolescência, queimamos a ficha corrida de latrocínios e o devolvemos às ruas aos 18, rebootado em criatura angelical. Porque o prisioneiro baixa a cabecinha por duas semanas, apagamos a sentença de 362 anos e o mandamos passear no Rio com alvará de bom comportamento. Porque Fulanílson é nosso chapa, ou se esmerou na conquista, a ele tudo; porque Sicranélson – embora de iguais pecados – não é nosso amiguinho de Face, não cresceu lá em casa, não chamou pro casamento nem fez novela, danou-se. Perdeu a chance de pagar propina a nossos bons olhos, de comprar com fofuras nossa condescendência. Perdeu a hora de arrumar um QIzinho nos corredores gelatinosos de nossa justiça.
Cega.
Porque o Messi é o Messi – bingo, Galvão. Porque nossa legislação, interna e externa, obedece à regra da produtividade. Porque nossa justiça, oficial e oficiosa, segue a tendência dos sistemas de milhagem: sempre a reunião de informações pregressas, sempre um acúmulo de passados, em lugar da análise desapaixonada de um qualquer presente. Porque nosso olhar é vestido de simpatias perigosas. Porque nossa consciência se bota à venda por preferências suspeitas. Porque nosso julgamento se flexibiliza alegremente ante um histórico de bônus. Porque nossos pesos e nossas medidas correspondem sentimentalmente a nossos respeitos e gratidões armazenadas. Porque nossas emoções prévias se sobrepõem à situação momentânea, nossos veredictos se antecipam ao júri, nossos argumentos correm à frente dos fatos. Nossa lovística ultrapassa a lógica.
Porque aquele alunito sempre foi o primeiro a oferecer-se nas respostas, o primeiro a elevar-se nas notas, às vezes o único a dispor-se nas tarefas, perdoamos sem senões o caso de plágio flagrante, de cola desavergonhada, ou o soco que tirou sangue de um nariz menos esforçado. Porque aquele filho sempre foi o mais largamente carinhoso dos irmãos, mentimos em tribunal para salvá-lo da condenação por roubo. Porque aquela amiga sempre foi a mais grudada das quase irmãs, preferimos terminar com o namorado novo a crer que são calúnias as alegações despeitadas contra o pobre. Porque o réu é primário, vemos com tolerante leveza, beijitos e promessas de não-faço-mais o fato de ter dirigido bêbado e atropelado 57 pessoas na calçada. Porque o criminoso tem o verdor da adolescência, queimamos a ficha corrida de latrocínios e o devolvemos às ruas aos 18, rebootado em criatura angelical. Porque o prisioneiro baixa a cabecinha por duas semanas, apagamos a sentença de 362 anos e o mandamos passear no Rio com alvará de bom comportamento. Porque Fulanílson é nosso chapa, ou se esmerou na conquista, a ele tudo; porque Sicranélson – embora de iguais pecados – não é nosso amiguinho de Face, não cresceu lá em casa, não chamou pro casamento nem fez novela, danou-se. Perdeu a chance de pagar propina a nossos bons olhos, de comprar com fofuras nossa condescendência. Perdeu a hora de arrumar um QIzinho nos corredores gelatinosos de nossa justiça.
Cega.
Um comentário:
Realmente existe o sistema de milhagens de boas ações existe no âmbito latino.
Análises difusas para feitos similares.
é o famoso dois pesos duas medidas.
e antes que me esqueça, Messi é et.
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