Dizem (com evidente razão) que a infância molda a vida adulta. Acontece também em menores proporções: a infância do dia dá cara às 16, 17 horas subsequentes. Fonte de inevitável mau humor, de manhã azeda, é acordar com barulho. Barulho forte. Barulho chato. Gente berrando, picareta ou martelo cantando nas proximidades, rádio-relógio mandando ver no pagode, despertador esgoelando seu pém-pém-pém neurastênico. Há perversidade no ato de sacolejar um adormecido no grito e no susto, como violência a bebê após o parto. Acordando sacudimos a placenta, chegamos à tona do mundo, achamos a margem desta dimensão depois de longa ausência (mesmo que de 2,1 minutos). Nos re-parimos. Os sentidos tornam à eficiência normal, a cabeça tira a camisola inconsciente e se põe decente como a lógica. Voltam as memórias escolhidas, as conexões controladas. Fio por fio. Cirurgia milimétrica. Só tranquilamente é que nos expele nosso útero de travesseiro; qualquer urgência indevida bota erro no download.
Como é melhor acordar? De preferência, cedo. Quando o dia ainda cheira a (café com) leite, ainda está fresco para não nos assolar com calores súbitos, ainda tem ar de sereno para serenar as últimas impressões do pesadelo, ainda se mostra escuro para não assombrar a vista com sóis agressivos. Essa doçura lenta, silenciosa de quase madrugada pega a gente pela mão e nos vai acostumando à nova data, feito mãe que acompanha no primeiro dia de escola. É preciso tempo, é preciso. Tempo para os cinco minutinhos extras que são prêmio de consolação do sono, tempo para o espreguiçar (e outro) gostoso e inteiro ainda no colchão, tempo para o constatar da hora pela posição dos raios na parede. Tempo para chegar à varanda, beber cheiro de mato molhado e aquela calma, aquela solidão benéfica de cidade adormecida. Tempo para tomar o café sentado, pausado – com boa torrada, boa digestão e Bom dia, Brasil. Tempo para a oração, o banho quente, o chá gelado, os quadrinhos de jornal, a rega no jardim. Tempo para a consciência da temperatura e o capricho no modelito. Tempo para as preliminares. Tempo para o costume.
Tempo para o dia existir de verdade – em vez de passar as horas todas com cara de aquecimento (doido) para a misteriosa maratona que não começou.
Como é melhor acordar? De preferência, cedo. Quando o dia ainda cheira a (café com) leite, ainda está fresco para não nos assolar com calores súbitos, ainda tem ar de sereno para serenar as últimas impressões do pesadelo, ainda se mostra escuro para não assombrar a vista com sóis agressivos. Essa doçura lenta, silenciosa de quase madrugada pega a gente pela mão e nos vai acostumando à nova data, feito mãe que acompanha no primeiro dia de escola. É preciso tempo, é preciso. Tempo para os cinco minutinhos extras que são prêmio de consolação do sono, tempo para o espreguiçar (e outro) gostoso e inteiro ainda no colchão, tempo para o constatar da hora pela posição dos raios na parede. Tempo para chegar à varanda, beber cheiro de mato molhado e aquela calma, aquela solidão benéfica de cidade adormecida. Tempo para tomar o café sentado, pausado – com boa torrada, boa digestão e Bom dia, Brasil. Tempo para a oração, o banho quente, o chá gelado, os quadrinhos de jornal, a rega no jardim. Tempo para a consciência da temperatura e o capricho no modelito. Tempo para as preliminares. Tempo para o costume.
Tempo para o dia existir de verdade – em vez de passar as horas todas com cara de aquecimento (doido) para a misteriosa maratona que não começou.
Um comentário:
Não concordo com a parte de, melhor hora pra acordar, de preferência cedo.. kk gosto de acordar bem tarde..
http://fuimorarsozinha.blogspot.com/
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