Adoro essas datas americanas. Hoje é o Proposal Day, dia de homenagem às propostas de casamento. As noivadoiras planejam a cena com minúcias de Oscar: ela e ele num balão sobre o Vale do Loire, ou no topo da Torre Eiffel, ou no palco do Teatro Kodak, ou no último andar do Empire State – ou num balão sobre o Empire State, ou num palco em pleno último andar da Torre Eiffel... vocês entenderam. Violinos, um esparrame de violinos. Fogos, naturalmente. Dois muitilhares de borboletas ou pombas, três cacetilhões de pétalas de rosa. Um postulante a marido – ajoelhado, claro – que é o George Clooney cuspido e escarrado. Ou o Neymar, se for de gosto. Ou o Hugh Jackman. Ou o Luan Santana. Vocês entenderam! o essencial é que a criatura se ajoelhe, muito bem bonitamente, nos conformes, e oferte o dito-cujo: um solitário de 967 quilates que já está na família há 82 gerações. Já está na família há 82 gerações e pertenceu a Cleópatra. Pertenceu a Cleópatra e a Heloísa, aquela mesma do Abelardo. Esteve entre as joias favoritas de uma maharani. Agora é seu, garota. S-E-U! E ah, sim: você vai se casar com essa criatura ajoelhada. O nome dele mesmo?...
Propostas cinematográficas são bacanérrimas e fazem a gente crer em cinderelices – o que é mau. Digo: é bom crer em cinderelices, desde que as saibamos impossíveis. Desde que acreditemos apenas no perfume de fé que deixam, na predisposição de felicidade. Excelente coisa é que o casamento inicie da maneira mais romântica; péssimo, entretanto, que todo esse aparato seja condição sine qua non para uma noiva amada e satisfeita. Há as proposals tímidas, realizadas atabalhoadamente num bilhete, num dar de mãos no cinema, num ônibus, no metrô; há mesmo as jamais feitas, as subentendidas, que vão crescendo junto com a relação até o ponto em que os futuros noivos simplesmente as constatam: então a gente vai se casar, né? é. E permanecem unidos e unos por 220 anos, até que a morte os una mais ainda; confundidos um no outro, indeléveis. Pouco se lhes dá que a Proposta tenha ou não envolvido borboletas e balões, que a cerimônia tenha ou não sido disputada por paparazzi. Foi casamento comme il faut. Aquele em que o casal não lembra o que é “não pertencer” – em todos os bons sentidos.
Dicas para uma Proposta eficiente? aqui vão. Eu te proponho que a gente, embora no maior esforço (ou antes por causa dele), aplaine nossos orgulhos e abrace no outro não só o de sempre como o de nunca, não só a praxe como a surpresa. Eu te proponho que a gente brinque de igualar as necessidades, ao menos quatro vezes por semana e de coração integral. Eu te proponho que a gente sonhe viagens jamais bastantes e, sabiamente, junte dinheiro e alegria para as possíveis. Eu te proponho que a gente enlace as famílias num Natal contínuo, que a gente crie os guris acreditando em Papais Noéis, fadas, Brasis melhores e submarinos amarelos, que a gente troque ao mesmo tempo lençóis e toalhas, que eu lave pratos e você enxugue, que eu traga a ideia e você se anime (ou me pouse), que eu levante a bola e você corte. Eu te proponho que a gente seja uma amizade, uma gangue, uma peça de Shakespeare, um filme de Tim Burton, uma sinfonia de Beethoven – a Nona. Eu te proponho como no “Substância” de Guimarães Rosa: “Você (...) quererá, a gente, nós dois, nunca precisar de se separar? Você, comigo, vem e vai?”. E você terá respondido como no “Substância” de Guimarães Rosa: “Vou, demais”.
Ou eu te proponho não dizer nada, seguirmos juntos a mesma estrada. Tudo lá dentro já da gente, de coração ajoelhado. Até que a morte nos una mais ainda. Irmos – demais.
Propostas cinematográficas são bacanérrimas e fazem a gente crer em cinderelices – o que é mau. Digo: é bom crer em cinderelices, desde que as saibamos impossíveis. Desde que acreditemos apenas no perfume de fé que deixam, na predisposição de felicidade. Excelente coisa é que o casamento inicie da maneira mais romântica; péssimo, entretanto, que todo esse aparato seja condição sine qua non para uma noiva amada e satisfeita. Há as proposals tímidas, realizadas atabalhoadamente num bilhete, num dar de mãos no cinema, num ônibus, no metrô; há mesmo as jamais feitas, as subentendidas, que vão crescendo junto com a relação até o ponto em que os futuros noivos simplesmente as constatam: então a gente vai se casar, né? é. E permanecem unidos e unos por 220 anos, até que a morte os una mais ainda; confundidos um no outro, indeléveis. Pouco se lhes dá que a Proposta tenha ou não envolvido borboletas e balões, que a cerimônia tenha ou não sido disputada por paparazzi. Foi casamento comme il faut. Aquele em que o casal não lembra o que é “não pertencer” – em todos os bons sentidos.
Dicas para uma Proposta eficiente? aqui vão. Eu te proponho que a gente, embora no maior esforço (ou antes por causa dele), aplaine nossos orgulhos e abrace no outro não só o de sempre como o de nunca, não só a praxe como a surpresa. Eu te proponho que a gente brinque de igualar as necessidades, ao menos quatro vezes por semana e de coração integral. Eu te proponho que a gente sonhe viagens jamais bastantes e, sabiamente, junte dinheiro e alegria para as possíveis. Eu te proponho que a gente enlace as famílias num Natal contínuo, que a gente crie os guris acreditando em Papais Noéis, fadas, Brasis melhores e submarinos amarelos, que a gente troque ao mesmo tempo lençóis e toalhas, que eu lave pratos e você enxugue, que eu traga a ideia e você se anime (ou me pouse), que eu levante a bola e você corte. Eu te proponho que a gente seja uma amizade, uma gangue, uma peça de Shakespeare, um filme de Tim Burton, uma sinfonia de Beethoven – a Nona. Eu te proponho como no “Substância” de Guimarães Rosa: “Você (...) quererá, a gente, nós dois, nunca precisar de se separar? Você, comigo, vem e vai?”. E você terá respondido como no “Substância” de Guimarães Rosa: “Vou, demais”.
Ou eu te proponho não dizer nada, seguirmos juntos a mesma estrada. Tudo lá dentro já da gente, de coração ajoelhado. Até que a morte nos una mais ainda. Irmos – demais.
Um comentário:
Lindo, lindo. Sem mais.
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