sábado, 17 de março de 2012

Não mais que de repente

Sábado quase no fim, tranquilamente sem planos. Não vamos mais sair, certo? Certo. Também há delícias, quantas, na quietude doméstica. Toca o telefone. Casal amigo chamando pro restaurante chinês – tipo: agora. Vamos? Marido hesita um pouco, curte surpresas um tanto mais planejadas (realmente ótimas). Mas os amigos são amigos, o restaurante é perto, há a novidade da primeira visita, há o tempo que refrescou gostosamente, há outro tempo para finalizar as computadorices iniciadas. É sábado à noite, homessa. Quer saber? vamos. Vamos, o papo rende, a comida desce redondo, o passeio coroa o dia que se desfaz perto de meia-noite sem virar abóbora. Tal qual me apetece. Dia com sobremesa.

Ontem escrevi de como a tristeza nos dá salvo-conduto aos desejos no fundo acalentados, inconfessos; mas é fato que existe melhor cobertura (de chocolate) para as pequenas loucurices, melhor anistia para os impulsos sinceros: o súbito. O susto. A surpresa que te sacoleja e exige resposta imediata, pede a frase que já flutuava na língua sem coragem de vir à tona. O assombro que traz à tona o “você” mais básico, a emergência que revela o prioritário, a urgência que desmascara o primitivo. Que maravilha ser, uma vez por semana ao menos, empurrado ou impedido pela urgência. Perder o excessivo controle. Ser tirado do trabalho pela falta de luz, ser enviado para Milão por exigência do chefe, não poder sofrer com o relatório porque o prazo está em cima, não poder sofrer com o modelito porque o carro já está na porta. Por isso as criaturas inseguras (no mínimo uma que eu conheço e vos fala) deixam tanto pra última hora: querem ser arrebatadas das próprias neuroses pelo inevitável, pelo inexorável. Pretendem não ter mais tempo de fazer senão o que, desde o início, estava decidido. Pretendem ser tolhidas de escolha. Pretendem não ter opções. Salvem-me.

Fica a dica: mulheres que apresentam sintomas (não, desses não compartilho) como pedir uns tapinhas em momentos estratégicos, sonhar ser rasgadas por um cowboy afoito ou sequestradas de balão, não querem necessariamente novo parceiro, vida bandida no submundo de Gotham City ou sexo selvagem. Querem(-se) férias.

Um comentário:

OGROLÂNDIA disse...

Surpresas assim na rotina quando são agradáveis são um sopro de vida para quem, sem saber, apenas sobrevivia.
Quando a surpresa é ruim, como descobrir que pisou no coco de cavalo na entrada de uma festa, é que dá saudade do arroz com feijão da normalidade.