Fico sempre tentada a principiar pensamentos pelos guloseimas reflexivas de Mario Quintana, e eis que topo com mais uma delas numa esquina de internet: “O maior chato é o chato perguntativo. Prefiro o chato discursivo ou narrativo, que se pode ouvir pensando noutra coisa”. Fato, fatíssimo. Entre todos os chatos, não há pior do que aquele que não se pode tolerar em descanso de tela. Aquele que, em ruim acréscimo e mortal agravante à própria chatice, ainda exige que participemos da cuja. Demanda interação. Nos convoca para a guerra quando apenas suspirávamos pela solidão prática, mesmo que em companhia teórica. É caso de se baixar legislação: indivíduo algum tem de passar pelo desgosto de ser abordado em suas matutices ou recreações íntimas, e nunca, sob nenhuma circunstância – salvo questões criminais –, deve ser pressionado a dividir o que habita seu único território livre. Porque o chato perguntativo é isso; é o bárbaro querendo invadir na marra seu imperiozinho romano particular, tão duramente conquistado depois das devidas pelejas de um dia.
O chato perguntativo é a tia que não se satisfaz com sua declaração de não querer ter filhos, e resolve mergulhar fundíssimo nas razões de tamanha aberração. O chato perguntativo é a namoradanoivesposa que aguarda a final da Taça Rio para averiguar a opinião do consorte (sorte?) sobre a distribuição de seus quilos, gorduras e curvas. O chato perguntativo é o conhecido que não saca: você O-D-E-I-A o trabalho, e cada memória desnecessária acerca do trabalho vai descendo quadrada, ou subindo como um vômito novamente provocado, como uma repetida sessão de azia. O chato perguntativo é o, ah!, estrupício que não percebe: você tem pressa, você tem sono, você tem enfado nos olhos, você tem compromisso na agenda, você não tem interesse no assunto. Não quer desenvolver o assunto. O assunto não importa. Você quer que o assunto morra na linguagem fática, morra no elevador, morra na praia. O assunto é fita a ser cortada no próximo minuto que se inaugura, e não tratado de sociologia a revolucionar consciências pelos séculos dos séculos. O chato perguntativo, que saquinho, lhe dá mais importância que você mesmo. O chato perguntativo – haja paciência! – não tem a gentileza de deixar-se enrolar socialmente. Exige quens, ondes, quandos e porquês que lhe estão em falta clamorosa. O chato perguntativo ignora o charme dos vácuos, o sagrado dos silêncios, o delicado das camadas de neve iderretíveis. É a faca no meio da quiabice carioca. É o estuprador de vontades. Um saqueador. Um viking.
(O pior, meu nego, ainda é o chato desdenhativo, que se fecha em silencioso e excessivo respeito justinho quando você está prenhe de desabafos. O sujeito que ousa não te azucrinar nem dez minutitos durante a novela. Audácia.)
O chato perguntativo é a tia que não se satisfaz com sua declaração de não querer ter filhos, e resolve mergulhar fundíssimo nas razões de tamanha aberração. O chato perguntativo é a namoradanoivesposa que aguarda a final da Taça Rio para averiguar a opinião do consorte (sorte?) sobre a distribuição de seus quilos, gorduras e curvas. O chato perguntativo é o conhecido que não saca: você O-D-E-I-A o trabalho, e cada memória desnecessária acerca do trabalho vai descendo quadrada, ou subindo como um vômito novamente provocado, como uma repetida sessão de azia. O chato perguntativo é o, ah!, estrupício que não percebe: você tem pressa, você tem sono, você tem enfado nos olhos, você tem compromisso na agenda, você não tem interesse no assunto. Não quer desenvolver o assunto. O assunto não importa. Você quer que o assunto morra na linguagem fática, morra no elevador, morra na praia. O assunto é fita a ser cortada no próximo minuto que se inaugura, e não tratado de sociologia a revolucionar consciências pelos séculos dos séculos. O chato perguntativo, que saquinho, lhe dá mais importância que você mesmo. O chato perguntativo – haja paciência! – não tem a gentileza de deixar-se enrolar socialmente. Exige quens, ondes, quandos e porquês que lhe estão em falta clamorosa. O chato perguntativo ignora o charme dos vácuos, o sagrado dos silêncios, o delicado das camadas de neve iderretíveis. É a faca no meio da quiabice carioca. É o estuprador de vontades. Um saqueador. Um viking.
(O pior, meu nego, ainda é o chato desdenhativo, que se fecha em silencioso e excessivo respeito justinho quando você está prenhe de desabafos. O sujeito que ousa não te azucrinar nem dez minutitos durante a novela. Audácia.)
Um comentário:
Cheguei a ter tremedeiras durante a leitura me lembrando de alguns chatos perguntativos. Isso é de fato chato!!!
Eu gostei foi da frase: "Entre todos os chatos, não há pior do que aquele que não se pode tolerar em descanso de tela." Posso por no meu facebook???
Postar um comentário