sábado, 3 de março de 2012

Quando oiei a terra ardendo

Hoje faz 65 anos que Luiz Gonzagão e Humberto Teixeira gravaram a perolíssima “Asa branca”. Música fadada à perenidade pela melodia reta, limpa, facílima, casada a alguns dos versos mais doídos do cancioneiro (“Por falta d’água/ perdi meu gado,/ morreu de sede/ meu alazão”: de matar). Toda “Asa branca” é um desabafo de ternura antiga, o choro da separação maior – entre o vivente e a vida amada, entre o conhecedor e tudo quanto lhe é conhecido. E é oceanão filosófico que cabe, entretanto, dentro das notas mais simplinhas; as primeiro descobertas por qualquer tocador de flauta doce, acordeão, piano. Como se o fácil da partitura universalizasse o direito à tristeza.

Mas a tristeza de “Asa branca” não tem os rigores do sertão ardendo. Nem mesmo o nublado da cor que voa no título. É tristeza da cor do olhar de Rosinha, como dizem os versos que prefiro: “Quando o verde dos teus oio/ se espaiá na prantação,/ eu te asseguro:/ não chores não, viu,/ eu vortarei, viu,/ meu coração”. Não consigo ouvir ou cantar a estrofe sem me encher de ameaça de lágrima. Porque há lamento, sim, porém banhado de esperança e promessa. O sertanejo que parte não voltará “se”, voltará “quando”; o verdejar do campo que era braseiro e fornaia, por mais improvável, é dado como líquido e certo. Há mais que pressentimento, vontade; há certeza. A certeza dos que se recusam a aceitar a seca de coração inteiro. A certeza dos que são tão férteis que não a compreendem.

“Asa branca” assumiu extraoficialmente a condição de hino do Nordeste, mas é hino de todos nós. Nós que (vez por outra) vemos queimado nosso horizonte próximo, vemos palha e desolação até perder de vista; nós que nos despedimos de nossos Joões e Rosinhas em busca da sobrevivência implacável; nós que perdemos gado e prantação no caminho, que ficamos longe muitas légua da gente mesmo, e que no entanto temos a doçura de esperar a chuva cair de novo pra nós vortá pro nosso sertão. Sem dúvidas de que uma bênção providencial iluminará nossa terra de origem.

Feliz aniversário, “Asa branca” – melô da confiança irrestrita, profissão de fé teimosa, trilha sonora dos que brasileiramente não desistem nunca. Guarda contigo nosso coração.

7 comentários:

blog-cupcake disse...

Gostei do blog! Parabens!

http://wishyougirl.blogspot.com/2012/03/aviso-twitcam-tutorial.html

Anônimo disse...

Asa Branca é um clássico do nosso país, assim como o samba é simbolo, qualquer gringo que se aprofunda um pouco mais na nossa cultura conhece Asa Branca, 65 anos e a música continua sendo adorada por milhares de pessoas, isso sim é clássico, isso sim é cultura!

Unknown disse...

Luiz Gongaza era um ótimo artista. Merece mesmo ser lembrado junto com suas canções e composições!

diogopensamentos.blogspot.com

Gislaine disse...

Parabéns para a música.
http://perfeitamenteteen.blogspot.com

Millena disse...

Um verdadeiro artista

OGROLÂNDIA disse...

Música liricamente e melodicamente muito bem feita.
Que diferença pro ai se eu te pego.

Unknown disse...

essa musica asa branca é simplesmente
maravilhosa é uma das poucas que gosto fora do meu estilo favorito,
parabéns pelo post.

pode seguir e comentar meu blog?

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