Não é que eu não goste. Até acho bonito quando são borboletas, estrelas, beija-flores, ideogramas mimosinhos. O que não curto é tatuagem monstrenga, agressiva, que engole uma pele inteira de braço ou perna como se o indivíduo viesse embrulhado para presente, no antiestético sentido. Porque ah, não há tão belo como o invólucro original, apenas aqui e ali salpicado de um charmezinho em destaque. Grosseira a tatuagem, quando a pessoa é quem a enfeita.
Independentemente disso, intriga-me uma tendência curiosíssima do universo tatooesco: a mania de tascar na pele o próprio nome ou o do filho, da filha, do(a) digníssimo(a) amado(a), da avó falecida, dos 58 companheiros de turma, dos 92 maiores titulares do time e lá vai reticência. Todo mundo anda acometido da síndrome de Amnésia, da gana de fazer sentimento ou memória dependerem da declaração gravada na carne. Amor que é amor, devoção que é devoção parece estar irremissivelmente ligada à dor da agulha gritando um nome para a posteridade, como se não mais coubéssemos no peito, como se nos excedêssemos, nos transbordássemos – ou como se não estivéssemos autorizados a protestar amor sem o aval dos rituais primitivos, necessariamente visíveis. Andamos materializando, coisificando a dedicação em forma de linhas vazias, no lugar de priorizarmos a concretude dos atos. Preferimos um cartaz descarado às discretas concessões, uma placa ostensiva às pequenas abnegações, um sofrimento berrado ao sacrifício escondido. Preferimos andar etiquetados, feito gado marcado em brasa, a provar com ações nosso atestado de posse.
E vou além. Ficamos (de)pendentes da foto na carteira, do porta-retrato na mesa, do pôster na cortiça, do flagra no celular para reafirmar afetos oficiais, afetos públicos. Como se a paixão em qualquer nível pedisse bênção ao olhar alheio; como se a particularidade de existir em voz alta nos tirasse a responsabilidade de decidir e agir sobre nossos amores. Viram dogmas: uma vez divulgados, sempre os há, sempre os houve; precisam continuar a haver simplesmente, nesta serena indiferença do coração terceirizado.
Mas amor não engloba terceirizações ou calmas facilidades; não perpassa a superfície de tatuagens, só para dentro transborda e só invisivelmente se expande. O que resta não o afeta em suas estruturas, melhora-lhe no máximo a imagem social – à qual, se sincero, dá de ombros. Amor toca a margem mas só é palpável no leito. Mesmo se tatuado, amor só vaza em si mesmo. Amor não se pavoneia. Amor murmura.
E quando lhe acorre a necessidade de ser gritado, amor pede licença. Não quer invadir os direitos autorais de quem o possui em copyright.
Independentemente disso, intriga-me uma tendência curiosíssima do universo tatooesco: a mania de tascar na pele o próprio nome ou o do filho, da filha, do(a) digníssimo(a) amado(a), da avó falecida, dos 58 companheiros de turma, dos 92 maiores titulares do time e lá vai reticência. Todo mundo anda acometido da síndrome de Amnésia, da gana de fazer sentimento ou memória dependerem da declaração gravada na carne. Amor que é amor, devoção que é devoção parece estar irremissivelmente ligada à dor da agulha gritando um nome para a posteridade, como se não mais coubéssemos no peito, como se nos excedêssemos, nos transbordássemos – ou como se não estivéssemos autorizados a protestar amor sem o aval dos rituais primitivos, necessariamente visíveis. Andamos materializando, coisificando a dedicação em forma de linhas vazias, no lugar de priorizarmos a concretude dos atos. Preferimos um cartaz descarado às discretas concessões, uma placa ostensiva às pequenas abnegações, um sofrimento berrado ao sacrifício escondido. Preferimos andar etiquetados, feito gado marcado em brasa, a provar com ações nosso atestado de posse.
E vou além. Ficamos (de)pendentes da foto na carteira, do porta-retrato na mesa, do pôster na cortiça, do flagra no celular para reafirmar afetos oficiais, afetos públicos. Como se a paixão em qualquer nível pedisse bênção ao olhar alheio; como se a particularidade de existir em voz alta nos tirasse a responsabilidade de decidir e agir sobre nossos amores. Viram dogmas: uma vez divulgados, sempre os há, sempre os houve; precisam continuar a haver simplesmente, nesta serena indiferença do coração terceirizado.
Mas amor não engloba terceirizações ou calmas facilidades; não perpassa a superfície de tatuagens, só para dentro transborda e só invisivelmente se expande. O que resta não o afeta em suas estruturas, melhora-lhe no máximo a imagem social – à qual, se sincero, dá de ombros. Amor toca a margem mas só é palpável no leito. Mesmo se tatuado, amor só vaza em si mesmo. Amor não se pavoneia. Amor murmura.
E quando lhe acorre a necessidade de ser gritado, amor pede licença. Não quer invadir os direitos autorais de quem o possui em copyright.
Um comentário:
Poderia ser furtado uma foto melhor, ou seja, uma fot ode uma Tattoo com pelo menos o nome do artista que a fez, e não uma Tattoo qualquer e com erro de português gritante... A idéia de criticar é até boa, porém uma boa fonte seria o ideal.
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