sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Piluleatórias 2


Florença é um dos raros, salteados casos nominais em que o original não faz jus à tradução.

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Tenho uma simpatia agradecida pelos que olham a mistura verdeazul e cravam: "esse objeto turquesa". Não dizem cá, não dizem lá, não puxam para o azul nem para o verde; mandam "turquesa" assim lotericamente, com observação passada na peneira de tão fina. Amo a sofisticação (simplíssima no entanto) de se chamarem coisas pelo preciso nome que têm.

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(Nazista, por exemplo.)

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Entre outros 8.974 desníveis de rotina, homens nunca saberão a frustração de ter uma blusa perfeita em mil âmbitos e, muito porém, olhá-la triste: será decotada demais para o trabalho? A violência nos traspassa desde o grande nicho do medo até o nicho suspiroso do desperdício.

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Devíamos usar mais, também, palavras com belo ditongo crescente, como subitâneo.

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Paisageado pelos cabelos da moça de costas no metrô, o brinco era direitinho, em silhueta, o relógio do Museu D'Orsay.

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Tell me about incompatibilidades da vida, você que também gosta de blusas AND saias estampadas.

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A geladeira dá estalos agonizantes. Eu gelo.

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O sono nos faz lançar ideias no quarto da bagunça – depois haja lanterna e lucidez para um outra-vez.

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Às vezes o estômago anda tão discutível que chega a se anojar de cores, recusar-se a vestir tons com náusea física. Às vezes o mesmo tom lhe dá obsessões. Não é um estômago, é um gato digestório.

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Um país: vagão aleatório.

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