segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Piluleatórias 3


O termo lavável tem duas manifestações: "pode lavar que sai" e "pode lavar que não sai".

📝

Uma obra sem título é como um filho que não se pode pegar no colo; a desidentidade verbal guarda uma imaterialidade, uma angústia de inexistência.

📝

Haver calçados de tecido branco prova que a humanidade escamba a razão pela alegria de ser randômica.

📝

E os palheiros reiteradamente pintados por Monet provam a beleza como predicativa – não pertence: vem.

📝

Sou tão de humanas que chego a ver espíritos de palavras onde elas não moram, ter miragens vocabulares inteiras no meio de paisagens que elas não frequentam. Médium dicionária.

📝

Bicicletas não têm um parentesco romântico com relógios e moinhos?

📝

Cafeína (também olfativa) aumenta o volume em que falam os livros.

📝

Trata-se de um mal-entendido natural que não haja uma pedra preciosa – cor de âmbar – chamada alméride.

📝

Certas colchas de retalhos parecem um buquê de pipas.

📝

O Windows 11 sabe dar a má notícia da bateria arriada com a doçura dum barulhinho que não invade nem espanta; é quase um pedido de perdão legítimo por nos fazer intermediários de tomada.

📝

Bichos-da-seda almoçam a folha com circunspecta organização: uma fileira, outra fileira, outra fileira. Perdem nunca o fio da meada.

Nenhum comentário: