Primeiro disseram que o tal Anders Behring Breivik – o sujeito que, em julho passado, detonou bomba num prédio do governo em Oslo e atirou em jovens reunidos na ilha de Utoya, com saldo de 77 mortos – sofria de esquizofrenia paranoide. Agora não. O segundo grupo de psiquiatras envolvidos garantiu que o fulano não carrega doenças da cuca, está sãozinho da silva. Portanto, não deveria ser enviado para hospital coisíssima nenhuma, já que é plena e penalmente responsável pela decisão do massacre.
Me admito leiga no assunto, mas vamos matutar. Todo crime é uma espécie de loucura, se loucura considerarmos o ato de despregar-se das devidas limitações sociais e tacar os outros (e potencialmente a si mesmo) no lixo. Eu disse uma espécie de – porque é maluquice fronteiriça com a ruindade e a burrice. É a loucura conotativa, a da inconsequência, da irreflexão, da inabsorção de valor humano; loucura às vezes plantada de cedo, porém em apenas pouquinhos casos realmente orgânica, hormonal, irresistível. Esta (a irresistível) acontece inteirinha sob um véu, um pesadelo, como se a criatura estivesse inadvertidamente aprisionada num Tron, como se permanecesse num ostracismo interno, eterno, desabada num buraco de coelho. Não há senão um contato fortuito com esta dimensão. Parece-me não ser o que diz o olhar de Breivik, que está com a nossa dimensão e não abre. Tanto não abre que não deixa espaço para qualquer sentimentalização capaz de incutir-lhe algum tanto de alma.
Breivik é o oposto do louco (a tomarmos por louco o sonhador delirante); tão extremamente oposto que dá os 360 graus completos e volta a tangenciar o que menos deseja parecer. Porque Breivik é a excessiva razão; aquela de tamanha frieza em seus raciocínios “objetivos”, de tamanho calculismo em suas causas e consequências direitistas, de tamanho compromisso com o cifrão e seu respectivo número, que se veste de insanidade – uma vez que ignora a faceta emocional, espiritual, “irracional” passível de equilibrar as razões ensandecidas da razão pura. Breivik é a meta traçada, é o plano gélido, é o ultradireitismo nu de tudo o mais, focado unicamente em si próprio. Direto, na lata, sem demagogias que atenuem nossos melindres. Curiosamente, o que consideramos loucura no tal Anders é o que o senso comum observa com respeito e complacência nas gigantescas marcas e empresas, e nos mais sólidos governos. A diferença: Anders Breivik segue numa reta a sua crença incondicional, e não disfarça. Não quer se eleger nem arrematar empatias, clientes, espectadores. Quer só mergulhar em suas coerências transtornadas. Till the end. The end.
Estou montão com o segundo grupo de psiquiatras: não há, propriamente dita, loucura alguma que desculpe a maldade cristalizada nas más escolhas. Há, pelo contrário, a ausência total da saudável maluquice-beleza que nos empurra a (se necessário) ceder até a vida que nos cabe em prol de uma que a outro pertence. Nada existe de mais doentio do que velar com exageros pelo detalhe insólito que chamamos de eu.
Me admito leiga no assunto, mas vamos matutar. Todo crime é uma espécie de loucura, se loucura considerarmos o ato de despregar-se das devidas limitações sociais e tacar os outros (e potencialmente a si mesmo) no lixo. Eu disse uma espécie de – porque é maluquice fronteiriça com a ruindade e a burrice. É a loucura conotativa, a da inconsequência, da irreflexão, da inabsorção de valor humano; loucura às vezes plantada de cedo, porém em apenas pouquinhos casos realmente orgânica, hormonal, irresistível. Esta (a irresistível) acontece inteirinha sob um véu, um pesadelo, como se a criatura estivesse inadvertidamente aprisionada num Tron, como se permanecesse num ostracismo interno, eterno, desabada num buraco de coelho. Não há senão um contato fortuito com esta dimensão. Parece-me não ser o que diz o olhar de Breivik, que está com a nossa dimensão e não abre. Tanto não abre que não deixa espaço para qualquer sentimentalização capaz de incutir-lhe algum tanto de alma.
Breivik é o oposto do louco (a tomarmos por louco o sonhador delirante); tão extremamente oposto que dá os 360 graus completos e volta a tangenciar o que menos deseja parecer. Porque Breivik é a excessiva razão; aquela de tamanha frieza em seus raciocínios “objetivos”, de tamanho calculismo em suas causas e consequências direitistas, de tamanho compromisso com o cifrão e seu respectivo número, que se veste de insanidade – uma vez que ignora a faceta emocional, espiritual, “irracional” passível de equilibrar as razões ensandecidas da razão pura. Breivik é a meta traçada, é o plano gélido, é o ultradireitismo nu de tudo o mais, focado unicamente em si próprio. Direto, na lata, sem demagogias que atenuem nossos melindres. Curiosamente, o que consideramos loucura no tal Anders é o que o senso comum observa com respeito e complacência nas gigantescas marcas e empresas, e nos mais sólidos governos. A diferença: Anders Breivik segue numa reta a sua crença incondicional, e não disfarça. Não quer se eleger nem arrematar empatias, clientes, espectadores. Quer só mergulhar em suas coerências transtornadas. Till the end. The end.
Estou montão com o segundo grupo de psiquiatras: não há, propriamente dita, loucura alguma que desculpe a maldade cristalizada nas más escolhas. Há, pelo contrário, a ausência total da saudável maluquice-beleza que nos empurra a (se necessário) ceder até a vida que nos cabe em prol de uma que a outro pertence. Nada existe de mais doentio do que velar com exageros pelo detalhe insólito que chamamos de eu.
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