O último Manhattan Connection falou dela: Rachel Maddow. Elogiadíssima. Despojada, bem-humorada, culta, direta, politizada, objetiva, a apresentadora foge e traz frescor ao padrão velho-jornalista-sisudo e à alternativa repórter-loura-sorridente-esnobe-perua da mídia americana. Critica incisivamente, pergunta com propriedade. Até dos desafetos ganha os devidos respeitos. Mas altamente fundamental, para minha instantânea simpatia, foi o comentário de Caio Blinder: “A questão é que ela não interrompe, deixa os outros falarem – mesmo quando não concordam com ela”.
É artigo em falta, o entrevistador que deixa os outros falarem. Coisa de luxo. A maioria chama o sujeito para um bate-papo televisionado, uma simples conversa com milhares de testemunhas. O entrevistado vem, o apresentador mostra que sabe conduzir o diálogo dentro da especialidade alheia, dá aparte, faz piada, conta a própria experiência, muito obrigado, volte sempre, próximo! O foco oscila injustamente entre dono da casa e visitante – injustamente porque, ao dono da casa, nós temos todo dia –, e não raro o tema interessante e específico se perde no que vira um tricô de comadres. O convidado não chega como protagonista, chega como escada. Entojo. Não assisti à performance da Rachel perguntadora, porém acredito nos manhattans e lhe envio minhas admirações (se é verdade que está mais ocupada em ouvir do que em ouvir-se, mais em beber novas aprendizagens do que em dar um confere na velha e própria voz).
Aqui amarro um mea culpa. Eu interrompo quando converso. Não vou ao cúmulo de cortar em cubinhos a fala de ninguém, nem sufoco o interlocutor, nem violentamente o atropelo; mas interrompo. Interrompo na ânsia de completá-lo, na impaciência de me solidarizar, na incontinência de narrar meu caso pessoal, no nervoso de mudar o assunto. Avanço, sim, sem respeitar o ciclo do sinal que não se abriu à escuta, que ainda está no modo “desabafo”, vermelho às influências externas. Avanço e avançamos todos – com especial vontade no contexto em que Rachel Maddow resiste à tentação: quando discordam de nós. Quando têm a ousadia de não partilhar nossa sapiência. Quando precisam ser imediatamente instruídos, resgatados o mais cedo possível de sua opinião entrevada. Vivemos numa secura de Graal; não de descobri-lo, mas de divulgá-lo. Vivemos em sede de doar o ensinamento que não temos. Vivemos em cócegas de persuadir o outro à nossa imagem e semelhança.
Raros e caros os que não amam sua ideia sobre todas as coisas. E os que não pronunciam excesso de eus em vão.
É artigo em falta, o entrevistador que deixa os outros falarem. Coisa de luxo. A maioria chama o sujeito para um bate-papo televisionado, uma simples conversa com milhares de testemunhas. O entrevistado vem, o apresentador mostra que sabe conduzir o diálogo dentro da especialidade alheia, dá aparte, faz piada, conta a própria experiência, muito obrigado, volte sempre, próximo! O foco oscila injustamente entre dono da casa e visitante – injustamente porque, ao dono da casa, nós temos todo dia –, e não raro o tema interessante e específico se perde no que vira um tricô de comadres. O convidado não chega como protagonista, chega como escada. Entojo. Não assisti à performance da Rachel perguntadora, porém acredito nos manhattans e lhe envio minhas admirações (se é verdade que está mais ocupada em ouvir do que em ouvir-se, mais em beber novas aprendizagens do que em dar um confere na velha e própria voz).
Aqui amarro um mea culpa. Eu interrompo quando converso. Não vou ao cúmulo de cortar em cubinhos a fala de ninguém, nem sufoco o interlocutor, nem violentamente o atropelo; mas interrompo. Interrompo na ânsia de completá-lo, na impaciência de me solidarizar, na incontinência de narrar meu caso pessoal, no nervoso de mudar o assunto. Avanço, sim, sem respeitar o ciclo do sinal que não se abriu à escuta, que ainda está no modo “desabafo”, vermelho às influências externas. Avanço e avançamos todos – com especial vontade no contexto em que Rachel Maddow resiste à tentação: quando discordam de nós. Quando têm a ousadia de não partilhar nossa sapiência. Quando precisam ser imediatamente instruídos, resgatados o mais cedo possível de sua opinião entrevada. Vivemos numa secura de Graal; não de descobri-lo, mas de divulgá-lo. Vivemos em sede de doar o ensinamento que não temos. Vivemos em cócegas de persuadir o outro à nossa imagem e semelhança.
Raros e caros os que não amam sua ideia sobre todas as coisas. E os que não pronunciam excesso de eus em vão.
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