Uma gente merecedora de grossas simpatias tem hoje sua comemoração: os diplomatas. É povo que se fantasia de linha e agulha, que começa a trabalhar justo onde os outros terminam – terminam porque é o ponto em que nasce engavetamento de opiniões e, não muito depois, briga sangrenta de desejos. Lá vai o diplomata, então, partir pro deixa-disso. Apartar os orgulhos. Amaciar o meio de campo, polir as superfícies de contato. E se, por fim, todas as animosidades são detidas antes do homicídio, e se as criaturas voltam para casa refletindo por um ou dois segundos nas razões do adversário – vitória absoluta. Diplomata é o sujeito que deixa dois diferentes menos encantados de não serem iguais.
Em menor (ou maior, porque permanente?) escala, somos diplomatas todos, eternos costuradores de coração desfiado. Eternos construtores de pazes improváveis. A mãe que alcança um abraço entre a curiosidade do caçula e a irmã adolescente que protege diários secretíssimos; o avô que enche de passados a infância presente do neto; a namorada que reúne sabedorias do amor e do estrogênio para tolerar a sessão de Velozes e furiosos; o pai que reconcilia seu marmanjo mais velho com a vontade dos estudos; o professor que faz conteúdo e alegria voltarem a se falar; a amiga que promove entendimento entre o Tico e o Teco da outra, já exausta de burradas amorosas. O chefe que põe pra funcionarem em colaboração os pontos de vista inimigos. O técnico que move seu time de estrelas a preferir gol em lugar de morticínio. O casalzito que distribui a família, na festa, de tal sorte que o casamento não se acabe em funeral.
E com a gente, e na gente? E a habilidade de a gente se convencer que o rompimento foi preciso, que carboidrato não é preciso, que a 38 ainda cabe, que as 24 dão e sobram? E a arte de a gente se seduzir para a ginástica, para o trabalho, para a social do departamento, para a visita de cerimônia? E o jeito de a gente se persuadir (tola a gente, de acreditar) que a coluna aguenta, que o salário dá conta, que o computador ainda dura, que a máquina de lavar não mastiga, que o cachorro fofinho não morde, que o vestido atochado não rasga, que o inglês está enough, que a informática está em dia, que a vida está em dobro melhor do que era e só razoavelmente longe do melhor que poderia ser?
Otimismo é diplomacia pra dentro. Diplomacia é otimismo pra fora. Profissionalismo na área é pegar nossos mesmos quereres – ou alheios –, os quereres de nosso mesmo país – e de alheios –, atar tudo e jogar n’água, como o catar-feijão de João Cabral. Absurdos conceituais, a gente afoga na origem. E sobrevive da vida possível: de toda a paz que boiar.
Em menor (ou maior, porque permanente?) escala, somos diplomatas todos, eternos costuradores de coração desfiado. Eternos construtores de pazes improváveis. A mãe que alcança um abraço entre a curiosidade do caçula e a irmã adolescente que protege diários secretíssimos; o avô que enche de passados a infância presente do neto; a namorada que reúne sabedorias do amor e do estrogênio para tolerar a sessão de Velozes e furiosos; o pai que reconcilia seu marmanjo mais velho com a vontade dos estudos; o professor que faz conteúdo e alegria voltarem a se falar; a amiga que promove entendimento entre o Tico e o Teco da outra, já exausta de burradas amorosas. O chefe que põe pra funcionarem em colaboração os pontos de vista inimigos. O técnico que move seu time de estrelas a preferir gol em lugar de morticínio. O casalzito que distribui a família, na festa, de tal sorte que o casamento não se acabe em funeral.
E com a gente, e na gente? E a habilidade de a gente se convencer que o rompimento foi preciso, que carboidrato não é preciso, que a 38 ainda cabe, que as 24 dão e sobram? E a arte de a gente se seduzir para a ginástica, para o trabalho, para a social do departamento, para a visita de cerimônia? E o jeito de a gente se persuadir (tola a gente, de acreditar) que a coluna aguenta, que o salário dá conta, que o computador ainda dura, que a máquina de lavar não mastiga, que o cachorro fofinho não morde, que o vestido atochado não rasga, que o inglês está enough, que a informática está em dia, que a vida está em dobro melhor do que era e só razoavelmente longe do melhor que poderia ser?
Otimismo é diplomacia pra dentro. Diplomacia é otimismo pra fora. Profissionalismo na área é pegar nossos mesmos quereres – ou alheios –, os quereres de nosso mesmo país – e de alheios –, atar tudo e jogar n’água, como o catar-feijão de João Cabral. Absurdos conceituais, a gente afoga na origem. E sobrevive da vida possível: de toda a paz que boiar.
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