
Em menor (ou maior, porque permanente?) escala, somos diplomatas todos, eternos costuradores de coração desfiado. Eternos construtores de pazes improváveis. A mãe que alcança um abraço entre a curiosidade do caçula e a irmã adolescente que protege diários secretíssimos; o avô que enche de passados a infância presente do neto; a namorada que reúne sabedorias do amor e do estrogênio para tolerar a sessão de Velozes e furiosos; o pai que reconcilia seu marmanjo mais velho com a vontade dos estudos; o professor que faz conteúdo e alegria voltarem a se falar; a amiga que promove entendimento entre o Tico e o Teco da outra, já exausta de burradas amorosas. O chefe que põe pra funcionarem em colaboração os pontos de vista inimigos. O técnico que move seu time de estrelas a preferir gol em lugar de morticínio. O casalzito que distribui a família, na festa, de tal sorte que o casamento não se acabe em funeral.
E com a gente, e na gente? E a habilidade de a gente se convencer que o rompimento foi preciso, que carboidrato não é preciso, que a 38 ainda cabe, que as 24 dão e sobram? E a arte de a gente se seduzir para a ginástica, para o trabalho, para a social do departamento, para a visita de cerimônia? E o jeito de a gente se persuadir (tola a gente, de acreditar) que a coluna aguenta, que o salário dá conta, que o computador ainda dura, que a máquina de lavar não mastiga, que o cachorro fofinho não morde, que o vestido atochado não rasga, que o inglês está enough, que a informática está em dia, que a vida está em dobro melhor do que era e só razoavelmente longe do melhor que poderia ser?
Otimismo é diplomacia pra dentro. Diplomacia é otimismo pra fora. Profissionalismo na área é pegar nossos mesmos quereres – ou alheios –, os quereres de nosso mesmo país – e de alheios –, atar tudo e jogar n’água, como o catar-feijão de João Cabral. Absurdos conceituais, a gente afoga na origem. E sobrevive da vida possível: de toda a paz que boiar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário