Como tenho ido à igreja para as celebrações da Semana Santa, ouvi de alguém: “Não compreendo para que serve ir até lá e ficar rezando. Pura perda de tempo”.
Não é. E quem tem energia elétrica em casa – e aparelhos que dela dependem para funcionar com boniteza – entende facilmente por quê.
Aposto que a pessoa em questão, e qualquer leitor que tenha nascido entre os séculos passado e corrente, já botou nos últimos dias o celular para carregar, o notebook para se realimentar ou a meríssima geladeira para mamar da tomada e, assim, continuar gelando com adequação. Pois. É para isso que serve. Não há “utilidade” prática (a síndrome de utilidades que nos consome!) em seguir as memórias e festividades da própria religião, se se percebe como prática apenas a consequência imediata, direta, palpável, econômica, material e visível. O que há é um tapa na bateria interna, uma recarga nas motivações intrínsecas, uma garibada nas disposições amorosas, uma saciada na fome espiritual. Todos sabem que “religião” vem de religare, e é nada mais ou menos que isto: o ato de nos plugarmos a fonte que nos alimente essa fome espiritual de nascença, tanto bebamos das palavras de Jesus quanto as de Buda, Moisés ou Maomé, tanto sorvamos a Bíblia quanto a Torá, o Alcorão, o Livro dos Vedas. E não se sorvem apenas ditos, teorias; bebem-se histórias, encontros, exemplos, convivências. Importa selecionarmos nossa voltagem e, de coração inteiro, como em todos os demais amores, depositarmos neste nossas coerências e fidelidades. Haverá os que trairão as crenças, tal qual há fracos que traem países, times, equipes, bandeiras. Mas não são estes que devem responder pela fé que superficialmente abraçam – são os que a abraçam profundamente. Não são os torcedores assassinos que devem representar o clube – são os pacificamente apaixonados. Não são os aparelhos estragados que devem levar mau nome à energia elétrica – devem engrandecê-la os que funcionam em plenitude por causa dela.
Atenção que não afirmo a coisa pelo lado negativo (porque os indivíduos andam assustadiços e escaldados à beça; e muitos, se não deixamos tudo ex-pli-ca-di-nho – se declaramos algo e fazemos algum silêncio –, tendem a tomar nosso silêncio como afirmação do suposto contrário). NÃO digo que os que não seguem religiões não têm fonte onde se plugar. Simplesmente garanto que a religião nos fornece esse plugue, e, em oposição ao que tantos pensam, defender um não implica automaticamente “acusar” o outro. Tenho mais o que fazer (o cesto de roupa suja na despensa prova isso) do que julgar vida e pensamento alheios. Só me dou ao trabalho, sim, de apontar o dedo à falta de pensamento em geral, em gente de todos os tipos, acreditâncias, origens e formações. Estender o indicador ao que considero as únicas, as verdadeiras perdas de tempo no mundo: atos gratuitos de desamor. A dedicação da existência a um plano contínuo de grosserias, desrespeitos, crueldades, ódios, matanças, aviltamentos do espaço público ou do direito privado, perseguição às diferenças, lutas estúpidas e violentas pelas igualdades. Maldades grandes e pequenas, se pequenas há; o horror, o horror que nos habita e tantas vezes se manifesta, traiçoeiríssimo, encapotado até nas melhores intenções.
Já os atos de amor – do amor Eros, do amor Ágape, do amor que balança o berço, do amor que doa o sangue e o leite e a medula, do amor que não desiste da carreira, do amor que vai adotar na Suípa, do amor que vai nos achar na Suíça, do amor família, do amor amigo, do amor sociedade, do amor religião – são sempre e necessariamente gratuitos, pelo menos se valem o próprio nome, e em si mesmo se bastam e justificam. Não carecem de fim porque são o fim. São o objetivo e a razão de si, alfas e ômegas eles mesmos. E pronto. Ponto. O tempo é também vassalo irrelevante do Dr. Amor, tão absoluto. E passará. O amor passarinho.
Religião não é para, religião é. Posto de abastecimento de amor. Tão-somente um fio-céu.
Não é. E quem tem energia elétrica em casa – e aparelhos que dela dependem para funcionar com boniteza – entende facilmente por quê.
Aposto que a pessoa em questão, e qualquer leitor que tenha nascido entre os séculos passado e corrente, já botou nos últimos dias o celular para carregar, o notebook para se realimentar ou a meríssima geladeira para mamar da tomada e, assim, continuar gelando com adequação. Pois. É para isso que serve. Não há “utilidade” prática (a síndrome de utilidades que nos consome!) em seguir as memórias e festividades da própria religião, se se percebe como prática apenas a consequência imediata, direta, palpável, econômica, material e visível. O que há é um tapa na bateria interna, uma recarga nas motivações intrínsecas, uma garibada nas disposições amorosas, uma saciada na fome espiritual. Todos sabem que “religião” vem de religare, e é nada mais ou menos que isto: o ato de nos plugarmos a fonte que nos alimente essa fome espiritual de nascença, tanto bebamos das palavras de Jesus quanto as de Buda, Moisés ou Maomé, tanto sorvamos a Bíblia quanto a Torá, o Alcorão, o Livro dos Vedas. E não se sorvem apenas ditos, teorias; bebem-se histórias, encontros, exemplos, convivências. Importa selecionarmos nossa voltagem e, de coração inteiro, como em todos os demais amores, depositarmos neste nossas coerências e fidelidades. Haverá os que trairão as crenças, tal qual há fracos que traem países, times, equipes, bandeiras. Mas não são estes que devem responder pela fé que superficialmente abraçam – são os que a abraçam profundamente. Não são os torcedores assassinos que devem representar o clube – são os pacificamente apaixonados. Não são os aparelhos estragados que devem levar mau nome à energia elétrica – devem engrandecê-la os que funcionam em plenitude por causa dela.
Atenção que não afirmo a coisa pelo lado negativo (porque os indivíduos andam assustadiços e escaldados à beça; e muitos, se não deixamos tudo ex-pli-ca-di-nho – se declaramos algo e fazemos algum silêncio –, tendem a tomar nosso silêncio como afirmação do suposto contrário). NÃO digo que os que não seguem religiões não têm fonte onde se plugar. Simplesmente garanto que a religião nos fornece esse plugue, e, em oposição ao que tantos pensam, defender um não implica automaticamente “acusar” o outro. Tenho mais o que fazer (o cesto de roupa suja na despensa prova isso) do que julgar vida e pensamento alheios. Só me dou ao trabalho, sim, de apontar o dedo à falta de pensamento em geral, em gente de todos os tipos, acreditâncias, origens e formações. Estender o indicador ao que considero as únicas, as verdadeiras perdas de tempo no mundo: atos gratuitos de desamor. A dedicação da existência a um plano contínuo de grosserias, desrespeitos, crueldades, ódios, matanças, aviltamentos do espaço público ou do direito privado, perseguição às diferenças, lutas estúpidas e violentas pelas igualdades. Maldades grandes e pequenas, se pequenas há; o horror, o horror que nos habita e tantas vezes se manifesta, traiçoeiríssimo, encapotado até nas melhores intenções.
Já os atos de amor – do amor Eros, do amor Ágape, do amor que balança o berço, do amor que doa o sangue e o leite e a medula, do amor que não desiste da carreira, do amor que vai adotar na Suípa, do amor que vai nos achar na Suíça, do amor família, do amor amigo, do amor sociedade, do amor religião – são sempre e necessariamente gratuitos, pelo menos se valem o próprio nome, e em si mesmo se bastam e justificam. Não carecem de fim porque são o fim. São o objetivo e a razão de si, alfas e ômegas eles mesmos. E pronto. Ponto. O tempo é também vassalo irrelevante do Dr. Amor, tão absoluto. E passará. O amor passarinho.
Religião não é para, religião é. Posto de abastecimento de amor. Tão-somente um fio-céu.
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