Há dias falei (embasada por Quintana) que não existe pior chato do que o perguntador, aquele incapaz de o abandonar na quietude de seu silêncio. Reitero ser este o pior; mas um certo outro tipo pode bem causar controvérsias. Lembrei-me dele por estar hoje conversando com uma colega professora. Passou por nós um aluno seu – adulto – que conheço de fama: é impossível de contentar. Assim que o viu, ela suspirou exaustamente e disse tê-lo abordado, faz algum tempo, com pureza d’alma e tranquilidade na voz, a melhor das boas intenções: “Escuta, meu filho, você já está aqui há tantos anos e eu nunca o ouvi falar bem de nenhum professor que fosse. Nada está bom, nada serve, ninguém trabalha direito. Por que é, afinal, que você não vai para outra escola?...”.
Ignoro a resposta do cujo. Nem acho que precise. Não precisa porque sua permanência naquela ou em outra escola é meríssimo detalhe, assim como sua estada neste ou naquele hotel, sua viagem para alhures ou acolhures, sua residência na rua de baixo ou na de cima, seu trabalho na repartição do 5º. ou na do 8º. andar. Whatever. Resmungadores convictos maldirão o som do Fantasma da ópera, acharão arranhadura na taça do espumante servido na primeira classe do voo, encontrarão micromilionesimal queimadura nos brioches de Paris. Fazem isso porque fazem. E pronto. Tenham tido berço de 18 quilates ou de caixa de papelão, vão reclamar à farta pelo restante da existência, ainda que os demais caiam na esparrela de desdobrar-se em mimos. Reclamarão just because.
Não é bem just because, sejamos francos. E também não é, contra toda a lógica aparente, por se considerarem deuses do Olimpo, superiores a tudo o mais. Bem ao contrário. Essas almas resmungam, murmuram e ranzinzam porque são da opinião (íntima) de que é o último recurso que lhes resta para angariar alguma atenção. O que eu chamo de turma do farol emprestado: isentos de brilho inerente (ou assim autoenxergados) que, na aflição de serem vistos, esfolam qualquer luz alheia para se mostrarem comparativamente luminosos. Chupam a beleza em redor, vampirizam toda qualidade num raio próximo, massacram verbalmente toda virtude cravando os dentes em seu único ponto fraco. Desse único ponto fraco na virtude alheia, nasce a única virtude dos que necessitam de farol terceirizado. O professor fez greve, então eu sou um aluno exemplar. O funcionário é um incompetente, então eu sou um gênio desamparado. O governo é uma porcaria, então eu sou um cidadão excelso. O time não para de perder jogo, então eu sou um técnico e torcedor incompreendido. O erro do outro é minha faísca de empréstimo, o desvio alheio é minha perfeição de aluguel; ai de mim, tão maravilhoso, que sou vítima (vítima!) da sua fraqueza indiscreta.
Tédio; oh que tédio de presenciar autoestimas tão subterrâneas nivelando o mundo por baixo, pelas afrontas e deslizes, para o pôr à sua altura. Os urubus, os incontentáveis, os sequestradores de luz, os desenvolvedores de gato emocional, as celebridades do nhenhenhém improdutivo que me desculpem – mas fazer a hora sem esperar o outro (não) acontecer é fundamental.
Ignoro a resposta do cujo. Nem acho que precise. Não precisa porque sua permanência naquela ou em outra escola é meríssimo detalhe, assim como sua estada neste ou naquele hotel, sua viagem para alhures ou acolhures, sua residência na rua de baixo ou na de cima, seu trabalho na repartição do 5º. ou na do 8º. andar. Whatever. Resmungadores convictos maldirão o som do Fantasma da ópera, acharão arranhadura na taça do espumante servido na primeira classe do voo, encontrarão micromilionesimal queimadura nos brioches de Paris. Fazem isso porque fazem. E pronto. Tenham tido berço de 18 quilates ou de caixa de papelão, vão reclamar à farta pelo restante da existência, ainda que os demais caiam na esparrela de desdobrar-se em mimos. Reclamarão just because.
Não é bem just because, sejamos francos. E também não é, contra toda a lógica aparente, por se considerarem deuses do Olimpo, superiores a tudo o mais. Bem ao contrário. Essas almas resmungam, murmuram e ranzinzam porque são da opinião (íntima) de que é o último recurso que lhes resta para angariar alguma atenção. O que eu chamo de turma do farol emprestado: isentos de brilho inerente (ou assim autoenxergados) que, na aflição de serem vistos, esfolam qualquer luz alheia para se mostrarem comparativamente luminosos. Chupam a beleza em redor, vampirizam toda qualidade num raio próximo, massacram verbalmente toda virtude cravando os dentes em seu único ponto fraco. Desse único ponto fraco na virtude alheia, nasce a única virtude dos que necessitam de farol terceirizado. O professor fez greve, então eu sou um aluno exemplar. O funcionário é um incompetente, então eu sou um gênio desamparado. O governo é uma porcaria, então eu sou um cidadão excelso. O time não para de perder jogo, então eu sou um técnico e torcedor incompreendido. O erro do outro é minha faísca de empréstimo, o desvio alheio é minha perfeição de aluguel; ai de mim, tão maravilhoso, que sou vítima (vítima!) da sua fraqueza indiscreta.
Tédio; oh que tédio de presenciar autoestimas tão subterrâneas nivelando o mundo por baixo, pelas afrontas e deslizes, para o pôr à sua altura. Os urubus, os incontentáveis, os sequestradores de luz, os desenvolvedores de gato emocional, as celebridades do nhenhenhém improdutivo que me desculpem – mas fazer a hora sem esperar o outro (não) acontecer é fundamental.
Nenhum comentário:
Postar um comentário