Sabe onde eu gostaria de estar hoje? Catalunha. Ah, certamente na Catalunha. É dia de seu patrono, Sant Jordi – ninguém menos que o nosso amadíssimo São Jorge. Por que querer celebrar São Jorge no lá, e não no cá, é coisa que logo explico. Os catalães não o veem apenas como o santo guerreiro; emprestam-lhe as tradicionais funções de São Valentim, e fazem hoje também a festa dos namoros. Dos namoros e das amizades. O que mais me encanta é a troca de presentes, lindamente específica: mocinhas dão livros a seus amores (e amigos queridos), homens dão rosas com ramos de trigo a suas musas (e filhas, mães, amigas). Livros – porque o 23 de abril, data de nascimento e morte de Shakespeare, e morte de Cervantes, foi escolhido Dia Internacional do Livro por motivos incontestáveis. Rosas – porque, segundo a lenda, São Jorge salvou uma princesa sacrificada ao dragão que aterrorizava a Catalunha, e do sangue do dragão (atravessado pela lança do cavaleiro) brotou um pé de rosas vermelhonas, símbolos de amor leal. São deliciosas as explicações. As comemorações não o devem ser menos: eis que as ruas se enchem de barracas de flores e vendas de livros, estes a preço de convite, uma vez que o governo, na data, é sábio a ponto de suspender os impostos sobre letrinhas.
Apaixonei. Sugiro instituirmos urgentemente o Dia de Sant Jordi. Já é mesmo feriado para os fluminenses; adequadíssimo, pois (nós que estamos sempre celebrando o clima de primavera), que saiamos por aí fazendo a corte, presenteando quem mereça com o que melhor representa a beleza possível: nosso mundo de dentro, traduzido em páginas, e nosso mundo de fora, visto no incontrolável desenho das pétalas. O poder humano de escrever universos e a impotência humana de reproduzir as mínimas flores. A alegria do que conseguimos e a humildade do aonde não chegamos. Saiamos por aí homenageando o santo guerreiro armados pra batalha mais justa, investidos da razão e da sensibilidade, encouraçados de conhecimento e gentileza, fortalecidos pelo livro, refinados pela rosa – ou, ao contrário, revigorados no contato mais natural e amansados pela civilidade das letras. Nas horas vagas, um lanchinho simbolizado pelos ramos de trigo (porque vestimos uma vontade de ferro sem ainda sermos feitos dele).
Pão, fé, amor, livros, rosas – e os inimigos, tendo pés, não nos alcançarão.
Apaixonei. Sugiro instituirmos urgentemente o Dia de Sant Jordi. Já é mesmo feriado para os fluminenses; adequadíssimo, pois (nós que estamos sempre celebrando o clima de primavera), que saiamos por aí fazendo a corte, presenteando quem mereça com o que melhor representa a beleza possível: nosso mundo de dentro, traduzido em páginas, e nosso mundo de fora, visto no incontrolável desenho das pétalas. O poder humano de escrever universos e a impotência humana de reproduzir as mínimas flores. A alegria do que conseguimos e a humildade do aonde não chegamos. Saiamos por aí homenageando o santo guerreiro armados pra batalha mais justa, investidos da razão e da sensibilidade, encouraçados de conhecimento e gentileza, fortalecidos pelo livro, refinados pela rosa – ou, ao contrário, revigorados no contato mais natural e amansados pela civilidade das letras. Nas horas vagas, um lanchinho simbolizado pelos ramos de trigo (porque vestimos uma vontade de ferro sem ainda sermos feitos dele).
Pão, fé, amor, livros, rosas – e os inimigos, tendo pés, não nos alcançarão.
Um comentário:
salve Jorge!
Que ele continue nos protegendo hoje e sempre.
Que ele mate o dragão do preconceito, cobiça e inveja que ronda a nossa sociedade.
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