sexta-feira, 11 de maio de 2012

Já é

Estive pensando sobre essa expressão que forma uma das giriazinhas da vez. É sinal de entusiasmada concordância, aproximadamente um “que boa ideia!”, um “estou ansioso para isso!”, um “tem toda a razão!” batidos no liquidificador. Mas o que me dá mais simpatia pelo “já é” vem a ser exatamente o sentimento do agora, do não-vamos-adiar, do “considere feito” (consider it done) que é símbolo de competência nos filmes americanos. Por que essa pressa toda do “já é” que empregamos, tão alegres, para assentir num projeto de recreio, para aderir a uma proposta de dança, de música, de finde, de férias – por que essa pressa impaciente, que nos leva com tanta ânsia a trazer para o presente o que ainda mora no futuro, não contamina de eficiência nossas parcelas de vida todinhas? Por que não sai da esfera do prazer ligeiro para derramar-se no trabalho, nas obrigações e serviços outros, muito especialmente na vontade política, que entre nós tanto padece da Síndrome do Daqui a Pouco (já a caminho da Terra do Nunca)?

Digamos tenhamos acordado coerentes com o nosso ímpeto brasileiro para o carnaval, e tomado o cujo como exemplo para curar a ramerramice que nos acomete em todas as diferentes áreas. Digamos tenhamos engolido a pílula do “já é”. Fim da burocracia farisaica, da papelada interesseira, do apalermamento coletivo, do gerundismo desculposo, da modorra preguiçosa e estúpida – por que não dizer? arrogante. Tudo deixaria de não ser nossa função, e sim do Departamento de Etceteridade Pública, para ser com a gente, sim. Pessoalmente. Diretamente. De súbito abandonaríamos o empurrismo, o por-enquantismo, em prol do “onde eu estava que já não fiz isso há duas semanas?”. Em vez do “a Secretaria de Pontinho-Pontinho-Pontinho informa que estará realizando a licitação para iniciar as obras até o fim do ano”, já é! – considere as obras começadas anteontem, que vergonha não termos solucionado algo tão ridículo desde 1534, pelo menos. Em vez do “órgãos competentes estarão procedendo à triagem dos donativos para a distribuição a ser feita em breve”, já é! – em dois diazinhos um mutirãozão deu conta de separar e entregar direitinho os víveres a cada família, até em domicílio. Em vez do “meu colega da outra seção estará entregando o relatório assim que tiver os últimos dados do projeto”, já é! – eu mesmo adiantei as necessárias pesquisas e sapequei o texto na mesa do chefe antes da viagem de sábado. Não custava nada. Um qualquer-coisa de horas, minutos. Bobagem. Importante é resolver. Ficar com esse troço pendurado mais tempo?

Ficar com a praia suja mais tempo? Bora catar. Esperar mais pra derrubar o político escroque? Fora agora, pela porta dos fundos, e persona non grata pelos séculos dos séculos. Roubou? Prende. Sujou? Limpa. Quebrou? Conserta. Adoeceu? Direto pro hospital equipadinho, que outro jaeísta convicto se encarregou de botar nos trinques. Sem luz? É ligar pra Light e eles dizerem que já foi providenciado. Celular mudão por 10 minutos? No décimo primeiro chega torpedo da operadora, compungidíssima, se desculpando milhões e oferecendo uma semana gratuita. Já é, já foi, já deu, enough; pra que prosseguir fingindo ineficácia, protelando o óbvio, irritando necessidades?

Porque esta nossa maniazinha cretina de brincar de poeira diminuta ou estrela longínqua, de nos fantasiar de avestruz – sabe? Já era. 

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