quarta-feira, 9 de maio de 2012

Menino

Nesta data nasceu um menino. Um, não: nasceram dois. Aquele mais antigo viveu sujeito aos encasacamentos da sociedade – inglesa, sisuda, respeitabilíssima. Este mais recente vive sujeito aos encaixotamentos da sociedade – brasileira, preguiçosa, estereotipante. Aquele foi talvez incompreendido por mostrar, certas vezes, menos seriedade nas maneiras do que seria adequado; este já foi, talvez, subestimado no nível de alegria por aparentar mais seriedade nos modos do que costuma ser frequente. Um criava mundos de eterna infância para compensar o amor que não recebeu como filho, e o amor que não pôde dar como pai. O outro põe no mundo uns olhos felizes, de eterna infância, porque recebeu e recebe o amor que desde os primeiros anos torna a gente simpática à ideia de viver em festa. Um menino se espelhou na invenção do menino que não queria crescer. O outro menino soube crescer sem nunca abandonar o talento de ser lindamente menino. Um, James Barrie – o mesmo James que deu à luz um certo Peter Pan; o outro, Fábio Flora – o mesmo Fábio que há alguns anos me entrou no coração pela janela, derramando em tudo a mais repentina luz.

Há, sim, parecença entre os meninos: são dois escritores capazes de crer que a descrença em realidades coloridas assassina fadas; dois inventores de gente, dois defensores do princípio de que, para voar, não há combustível melhor que meia dúzia de pensamentos felizes. Mas James ia procurando em crianças externas, alter-egoicas, a doçura aventureira que queria transbordar de seu garoto perdido (o garoto interno, tão cedo confrontado com o tiquetaque da morte em família). E Fábio – o meu Fábio – armazena em si mesmo todos os garotos plenamente vividos que já foi, e os garotos potenciais que ainda será; nenhum perdido, cada um pouco a pouco encontrado, redescoberto, numa aventura infinita. Desde seu primeiro passo pro infinito. A terra elaborada por James Barrie era a da exclusão, a do isto-ou-aquilo, a do nunca-mais: nunca mais infância, para alguém já adulto, ou nunca mais idade adulta, para quem fosse criança; nunca mais pai ou mãe, nunca mais ordem e limite, nunca mais a suprema diversão do amor maduro. A terra de meu Fábio é a do isto-e-aquilo: deveres de gente grande, alegria de gente pequena, fadas e expedientes, revisões e brincadeiras, fantasia e assinatura de ponto. A terra em que a escolha não é se, mas quando. A terra sem a pirataria do tempo nos roubando asas e memórias. A Terra do Sempre.

Parabéns elevados à potência do sempre, meu Fábio. Quem, como eu, acredita que nunca lhe faltará a gasolina dos pensamentos felizes – bata palmas.

2 comentários:

Diva Déa disse...

Lindo texto, amiga! Só mesmo você poderia escrever algo assim... Muitas palmas para o Fábio! Bjssssssss.

Andréia disse...

Lindo texto e linda declaração de amor! Parabéns e alegrias infinitas...bjs.