terça-feira, 28 de março de 2017

Dúvidas existenciais

A Bela e a Fera é a coisa mais linda do universo, e sua obrigatoriedade deveria estar registrada em lei, com lacre imperial. O único senão é que saí com a questão existencialista de sempre, e que nunca na história deste planeta alguém foi capaz de curar: se tudão se passa na França, se todos os personagens são franceses, por que só o charmosíssimo candelabro Lumière tem sotaque francês?

É a bobagem das bobagens, mas detonou aquele montão de questionamentos mais ou menos transcendentais que vão tafulhando nosso poço de vida sem que nos apercebamos do excesso. Tipo: por que os aluninhos adorados acham impróprio acumular pontos no primeiro bimestre, com a matéria pequena e fácil, quando podem ser obrigados a estudar até as tripas no último, com o conteúdo do ano inteiro (e a urgência de acertar 37 questões em 20) pesando no lombo? Por que o nome da Casa & Vídeo sugere que o vídeo não faz parte da casa? Por que o azul é tão intrinsecamente relacionado ao masculino, se a tradição pinta o manto de Nossa Senhora de azul? (Seguindo na linha religiosa:) Por que os que mais cuidado têm em dizer-se cristãos – tão menor cuidado apresentam em ser imitadores de Cristo?

Por que os livros, ainda que gerados com papel diferente em tempo diferente, e conservados por décadas em local diferente, envelhecem quase todos com o mesmo cheiro? Por que, depois de proceder a uma limpa de arrumação em armários e bolsas, sofremos recaídas mil vezes mais desarrumadas? Por que (foi Lobato quem me implantou essa perplexidade, ainda na infância) as pessoas brancas se sentem superiores às negras por uma coisa que NÃO têm – ou têm consideravelmente menos? Que raio de superioridade é essa de uma pele mais áspera, menos pêssega e mais desprotegida do sol?

Se todo mundo estava de boas com o microondas junto, por que pitombas teve de virar micro-ondas separado? Dentro da escuridão mais completa, as cores continuam sendo coloridas ou só passam a “existir” quando há um mínimo fiapo de luz? Quem decidiu que os palavrões são tão ofensivos, se se referem simplesmente ao que é humano e, por vezes, um único foneminha os distingue de outros termos perfeitamente inocentes? Por que bullyingam a Mônica chamando-a de baixinha e gorducha, se ela é do exato tamanho e largura dos meninos chatões? Como é que as palavras “cachorro” e “vaca”, ligadas a animaizitos tão queridamente lindos, vieram a se tornar xingamento? Por que as bicicletas não se popularizaram como tricicletas – três rodinhas para conforto e sustento dos desequilibrados? Por que redublaram A pequena sereia da nossa infância e mudaram (hereges!) letras amadas e conhecidas?

Por que se matam, esfolam, desperdiçam, massacram valores absolutos do mundo em nome de números desenhados em pedaços de papel?

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