sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Estanho e zinco


Consigo entender por que, nas bodas de dez anos, fez-se homenagem ao estanho e ao zinco.

O estanho é dos metais mais antigos que se conhecem, sólido, porém maleável; especialmente não se oxida com facilidade, resiste bem à corrosão, entra inclusive em ligas metálicas que PROTEGEM da cuja outros materiais. Não se esperaria nada diferente duma união de década redonda: há muita solidez e, no entanto, muita flexibilidade envolvida – muita resistência potencial e muita doçura necessária –, ao mesmo tempo que enferrujar não apenas não está entre as opções individuais, como se torna mais improvável em conjunto. Um casamento de estanho, se de fato honra o metal que o apadrinha, empurra os conjes para o empurrão feliz e recíproco: um lufa ar fresco nos hábitos do outro, providenciando tanto quanto possível que nenhuns ares estagnados os corroam. Estar junto é um mútuo desancorar-se.

E o zinco? "A principal aplicação do zinco", diz tia Wiki para corroborar a parecença com o adorável estanho, "é na galvanização do aço ou ferro para protegê-los da corrosão, isto é, o zinco é utilizado como metal de sacrifício (tornando-se o ânodo de uma célula, ou seja, somente ele se oxidará)". Certo: não é bem romântica, mas é francamente linda essa ideia de metal de sacrifício, e cabe mui lindissimamente no casamento – de modo algum com aquela conotação de péssimo gosto dada pelas camisetas que tratam a união como um "game over", claro; não é na junção dos esposos que mora o sacrifício, e sim no sacrifício que cada um se torna naturalmente disposto a fazer pela preservação do outro, e de ambos como grupo. Sacrifícios que não anulam, não humilham, não renegam identidades, simplesmente se manifestam nas concessões da empatia, na criatividade das conciliações, na delicadeza instruída a ser mais esperta e mais aguda, na capacidade de observação enfim que indivíduos também devem alimentar em quaisquer outras convivências – apenas apurada de mais perto, desenvolvida com mais ternura e personalizada por mais amor.

Além disso o zinco é "um elemento químico essencial para a vida: intervém no metabolismo de proteínas e ácidos nucleicos, estimula a atividade de mais de 100 enzimas, colabora no bom funcionamento do sistema imunológico, é necessário para a cicatrização dos ferimentos, intervém nas percepções do sabor e olfato e na síntese do DNA [aqui tia Wiki meteu 'ADN', mas me recuso a fugir à sigla que popularizamos bem]". Em suminha, precisa-se de zinco para metabolizar, digerir, curar-se, saborear, existir – muito parecidito com o quanto se vive no conje, não em simbiose mas em aconchego emocional: cicatrizando dentro do mesmo grupo de vivências, curtindo as referências compartilhadas, apreendendo o que ocorre como uma equipe, um time já profundamente empático e telepático. Um dueto superfantástico.

Meu Fábio, muito zinco e estanho para nós, até as bodas de carvalho; que sigamos parceiros juntíssimos na tentativa de verter alguns cantinhos empedrados do mundo em terras aráveis.

Inoxidáveis.

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