quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Infinitos enquanto duram


Outro dia um tweet do perfil Horizonte Ampliado (@HorizonteAmp): "Nada dura mais do que um vídeo que alguém está te mostrando e que você não tem o mínimo interesse em assistir". Não discordo – ter de acompanhar esses micromartírios pra não fazer desfeita é realmente um entojo –, mas sustento que, em medidas de tempo psicológicas, não faltam zilhões doutros entojos decididos a durar tanto quanto. A saber:

o século transcorrido entre tirar uma senha nos Correios e os números da SUA categoria de senhas irem sendo convocados (os astros providenciarão para seja o único grupo numérico que estacionou).

a espera pelo – pelO – caixa eletrônico que funciona com plenitude na agência, muitíssimo embora haja outros oito. Entre os oito, três estão em atualização, dois não fazem saque, um não lê a digital nem por um cacete dourado, um planeja mastigar o cartão, um tem a tela tremelicante para proporcionar labirintites; o bendito fruto que resta jaz ocupado há 23 minutos por uma criatura que vem digitando a numeração de 16 boletos, a despeito de tê-los impressos e poder fazer adoravelmente a leitura dos códigos de barras.

o percurso entre a bolinha do "chegada ao centro de distribuição" e a bolinha do "saiu para entrega", em sites de encomendas queridas.

os milênios entre o comprimido tomado e a dor (enfim) desistente.

quaisquer dois segundos e meio de fala/aparição do coiso assombrado.

fila de exposição bombante.

sala de espera de médico que SEMPRE chega uma hora e trinta e sete minutos depois da primeira consulta agendada.

o filme Lincoln (anos meus de vida se escoaram naquele poço artesiano de tédio).

comerciais, quando a reportagem aguardada mora sóóó no próximo bloco.

tagarelagens, quando se está desejosamente abraçado num livro.

mandatos de facínoras, perversos, genocidas, psicopatas.

tudo que há de certo e de incerto, nas medidas inexatas.

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