sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Dia da Marmota


Hoje o coiso vai ganhar algum presente – violão, Bíblia, camiseta, panela, DVD dO rei leão, lixa de unha – e será fotografado com o objeto em questão fazendo pose de arma. Vai dizer que ano que vem não haverá eleição sem voto impresso. Vai dizer que o outro lado está esticando demais a corda e depois não se queixe de uma ruptura. Outras autoridades responderão que não vai ter voto impresso porcaria nenhuma, a urna é segura e mil vezes auditável. A *** soltará nota de repúdio contra a ameaça de golpe. Faltarão vacinas para a primeira dose. Especialistas convocados pelo jornal (qualquer um) sublinharão a necessidade de um ajuste fiscal. Matérias no mesmo jornal darão dicas de substituição da carne. Pesquisas apontarão a vitória do Lula em todos os cenários. Editoriais apavorados jurarão que a escolha continua sendo muito difícil e não é hora de extremos, precisamos avançar com as reformas. Uma reunião dos poderes será marcada para ver se Bolsonaro baixa o tom. Bolsonaro baixará o tom.

Bolsonaro subirá o tom, culpará o PT por [complete a lacuna] e reclamará que estão esticando demais a corda, não se queixem. Dirá que é imbrochável, incomível, inexpugnável, inenarrável, inderrotável. A ***, absolutamente chocada em Cristo, soltará nota de repúdio e completará que é preciso avançar com as reformas. Rodrigo Maia tuitará ironizando o criaturo e completará que é preciso avançar com as reformas. Rodrigo Pacheco discursará em tom conciliador e completará que é preciso avançar com as reformas. O sigilo fiscal de algum Bolsonarinho será quebrado e BolsoPai fará uma declaração escalafobética contra a vacina, o STF, o comunismo e o uso de máscaras. Chamarão Margareth Dalcolmo para comentar com firmeza e fofura a declaração e perguntarão à médica se não seria necessário fazer um ajuste fiscal. O STF questionará em público, indignada e retoricamente, onde é que nós estamos, e exclamará que quem será fechada é a senhora sua mãe (mas ninguém entenderá a mensagem subliminarizada entre mesóclises e proparoxítonas). Uma reunião será marcada para ver se Bolsonaro baixa o tom. Segue o jogo, não houve nada, Bolsonaro baixará o tom.

Caminhoneiros/motoqueiros/garimpeiros decepcionados subirão a hashtag #EuAcrediteiNoPresidente; em seguida receberão o briefing e baixarão o tom. O Pingos nos is passará não pano, mas fábricas inteiras da Hering para o presidente, quer ele tenha baixado ou subido o tom – já me perdi; de qualquer modo, a culpa é do Lula. Segundo a crescente média de mortes por covid no Rio de Janeiro, urge fazer um ajuste fiscal e avançar com as reformas. Moços e moças do tempo alertarão que o clima está seco, as reservas estão abaixo do mínimo e é urgente fazer um ajuste fiscal e avançar com as reformas. A *** soltará uma nota de repúdio sem destinatário específico, mas just in case. Faltarão vacinas para a segunda dose. Sem saber ao certo se está baixando ou subindo o tom, por não compreender o escrito, Bolsonaro divulgará uma cartinha desenvolvida no tocante à situação e o mercado reagirá feliz. Miriam Leitão aproveitará para dizer em tom apressado que é necessário fazer um ajuste fiscal.

Guanabara cantará mais uma vez que todo dia é diferente, todo dia é especiaaaaaal.

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