sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Você é boi garantido


Agora essa história de que o coiso é coirno – BOIsonaro, como os gaiatos já estamparam em meme. Não sei detalhes da treta e admito que permanecerei desinteressada em sabê-los, não por me tomar qualquer acesso de solidariedade insólita, mas por não haver no assunto exatamente nenhuma palpitância de novidade. Ora pitombas, amiguinhos: se por acaso está comprovada la cornitudine do rei do gado em questão, cês juram mesmo se tratar de algo assim tão espantoso, um "supimpa, como me estarrece essa notícia"? Nunca lhes tinha passado, hum, pela cabeça que um enredo tal era coisa no máximo ainda não descoberta, e no entanto indiscutível e fatalíssima como dois e dois são 89 mil? Absolutamente desnecessário trabalhar no QG do FBI com os criminal minders para supor que a galhada viera ou vinha, sólida e certa feito guinada de preços e berrante chamador de manifestação.

É bem no campo sólido que opero e argumento, não vem aqui ao caso nenhuma ideia de débito cármico ou algo que o galha. Porque convenhamos: às vezes nem com todas as entusiasmadas dedicações, todo o derramamento de ternuras e esforços, o desejo humano escapa de ir cantar em outra freguesia – QUANTO MAIS com um parceiro nitidamente egoico, inseguro, machista, narcisista, portador do nível de sensibilidade cultural de um pé de repolho (mil perdões, repolhos), desinteressante na conversa para dizer o mínimo, grosseiro, parlapatão, falocêntrico com baixas probabilidades de falo, de acordo com os indícios que são de domínio público. Admitindo embora que alguém consinta na administração sentimental-casamentícia duma criatura desse naipe, por motivos que não são da minha conta, a conta em algum momento chega, ah, chega; não como castigo, moira, fado, punição cósmica, anátema secular, mas como consequência. A consequência é matemática relativamente simples, trabalha com a frieza das estatísticas: se nem todas as companheiras hão de necessariamente trair uma peça tamanha, ALGUMA certamente vai, e a maior quantidade de companheiras engrossa as chances na devida proporção. Fatos da vida – de gado.

Não torço para que, não desejo que um ser humano seja romanticamente (digamos assim) traído, porém observo a efeméride duma perspectiva científica, antropológica. Se pouquíssimos fatores podem assegurar a lealdade de nossa espécie inconstante, perdê-la é um fluff; um desbotamento do respeito antigo, um rancor da desatenção, uma fagulha de carência, um gatilho de traição alheia, um desespero de novidade, uma sede de reconhecimento, um grito da autoestima, mil razõezinhas há que explicam, por mais que não justifiquem a infidelidade. Eu não faria e provavelmente não perdoaria, ao menos na modalidade aceitar de volta, mas não julgo os engarrafamentos psicológicos que levam a essas ocorrências eventuais (julgo, sim, as seriais) – em especial no ingratíssimo contexto ser mulher do coiso. Nesse caso é quase fatalidade sem ser; é um encaminhamento muito líquido para o despenhadeiro, a despeito de não haver, obviamente, nenhuma inocência de donzela pega no susto e adentrada no esquema sem saber como a banda toca (ou não toca): basta que se seja demasiadamente humana para que haja sim expectativas, ilusões, frustrações. Espécie alguma de pacto ou trato pré-nupcial nos convence de todo a desquerer o que queremos, e é sem dúvida milhãomente mais difícil renunciar com generosidade a um impulso em nome do que não foi cultivado em base generosa.

À cabeça que interessar possa, coroada de ramos que não são nem nunca mais serão de louros, nada sugiro nem recomendo, que não me importa nada, nada. Guenta o tranco, Bumba-meu-Bolso: acontece nas piores famílias.

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