sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Impossível e cia.


O que, para vocês, é da ordem do brabo, do possivelmente inviável, do eventualmente impossível? Para mim: usar o telefone. Usar um smartphone. Compreender físicas, químicas, matemáticas. Passar roupa (com decência). Escrever ficção longa. Me deixar hipnotizar – duvideodó que um dia eu relaxasse o suficiente. Dormir numa “hora certa”. Portar qualquer coisa na orelha que não sejam óculos: nada de brincos, fones quase nunca, elásticos de máscara só com extensor. Assistir a competições esportivas (a ginástica olímpica é honrosa exceção). Sair sem perfume. Sair sem bolsa. Sair sem tudo na bolsa.

Discutir sem me sentir culpada, mesmo que tenha razão. Olhar para a cara, ouvir a voz ou pronunciar o nome do coiso. Me maquiar. Me embebedar. Boiar. Brigar. Andar de bicicleta. Andar de roupa comprida e não barafustá-la nas pernas miseravelmente. Tomar café e não me afundar em azia. Distinguir carros. Dirigir carros (nem tento, credo). Jogar xadrez. Ver a entrega do Oscar com tradução simultânea – o melhor meio de não entender bulhufíssimas em língua alguma. Ter animais em casa (adoro, mas não consigo lidar com filhos de nenhuma espécie). Comer dobradinha. Comer camarão. Ser da Sonserina.

Frequentar, em parques, os brinquedos que rodam de um modo maníaco. Ler textos que não são de literatura. Ler e-books: não têm cheiro, case closed. Acampar. Escalar. Fazer mapa astral. Puxar ou alimentar conversas de metrô. Voltar ao cabelo comprido da adolescência. Curtir programas ou filmes de comédia. Suportar meio nanossegundo de heavy metal. Aparecer na TV – voluntariamente, I mean. Arriscar a vida sem ser para salvar alguém. Consumir abacaxi (afta e esofagite monstronas em 3, 2, 1). Consumir qualquer outro cítrico. Participar de fã-clube. Montar conta no Instagram. Tocar em arma de fogo – mas neeeem se a rainha da Inglaterra sobrevoasse a London Eye num hipopótamo alado recitando Os lusíadas. Ela ou o hipopótamo, tanto faz.

Dizer o necessário e não menos. Nem mais.

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