segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

O que você não precisa saber para começar a segunda


É outra mania dos portais, dos e-mails de atualização e assemelhados: "O que você precisa saber para começar a sexta", "O que você precisa saber para começar o domingo" – como se, não sabendo, estivéssemos impedidos de entrar no dia em questão; uma espécie de senha ao contrário, que somos obrigados a escutar para ter passe livre. Ora, a sexta, o domingo, a segunda começarão à nossa revelia, ou nós os começaremos ainda que a contragosto, saibamos ou não que a Angelina Jolie abriu a casa para uma revista inglesa, que a Karol Conká protagonizou outra cena horrenda ou que o Cristiano Ronaldo fez aniversário. OK, normalmente os sites incluem no resumão pré-dia informações de fato relevantes, como as tretas do "governo" com a Anvisa e o vacinômetro; mas mesmo aos dados fundamentais o nascer e o pôr do sol são indiferentes, e a rotação da Terra ri na cara das páginas de notícia que só querem dar a largada em nossas 24 horas se forem acessadas: watch me.

O dia se/nos inaugura também quando não sabemos. É importantíssimo saber, não discuto – nem nunca defenderia o estilo de vida tralalá-não-estou-te-ouvindo, que só amacia os explorados de sempre para mais explorações; porém a vibe impositiva dos sites não contribui muito para a seleção legítima e consciente do que é necessário, não apenas porque eles mesmos embrulham tudo num PFão de dados (já separei pra você o que é essencial, tá? por mais que, nesse McLanche não garantidamente Feliz, esteja incluída a nevasca em Nova York e não a explicação para jamais taxarem com força os mais ricos; obrigada, bom apetite) como, igualmente, porque é bastante desagradável ter uma fonte constante de ansiedade informativa. "O que você PRECISA saber" – alguém merece a pressão de uma tal apostila de sabatina antes das 8h? Take it easy, amigão; para começar o dia vou precisar mesmo de Dickens ou Pessoa, Machado ou Meireles; ou vou precisar de meditação, ou de um sanduba gigante, ou de um Nescafé extraforte, ou de um episódio de O vestido ideal. Eu decido. Não é sangria desatada, não estou numa competição ao estilo Quem quer ser um milionário? e é bem provável que – não estando eu tampouco em Júpiter ou num bunker antinuclear sem wi-fi – as notícias cruciais me vão chegando no decorrer das horas.

Só para prestar um pequenino desserviço de informação (em desagravo birrento ao combão de detalhes que nos querem deitar pela goela antes de terminarmos o sono), me dou ao trabalho de montar aqui meu próprio combão aleatório, ideal para ser lido enquanto as turbinas neurônias não esquentaram e a gente ainda está aurorando, sem condições de discutir a situação de Mianmar. Para começar a segunda, por exemplo, você não precisa em absoluto saber que: o menor réptil do mundo se limita a 1,35cm de comprimento; o sistema de metrô israelense é o mais curto do planeta e possui apenas seis estaçõezinhas; existe um juicer que produz, além do suco, um copo biodegradável com resíduos da polpa da fruta misturados a resina; em uma hora, nosso corpo deixa no ambiente 600 mil partículas de pele; a língua de cada um é tão única quanto suas impressões digitais; sanguessugas têm 32 cérebros; a Índia também dispõe de sua Grande Muralha, conhecida como Kumbhalgarh; em restaurantes do Japão, pode-se pedir a conta fazendo uma cruz com os dedos; o máximo que uma galinha já conseguiu voar foram 13 segundos; girafas não possuem cordas vocais; os pontinhos pretos das bananas são óvulos não fecundados, e não sementes; a pimenta mais apimentada de todas as pimentas é a Carolina Reaper, cuja ardência equivale à de 29 malaguetas; A Cristaleira era o nome da lojinha de presentes que mais tarde virou o Magazine Luiza.

Agora sim: bom dia; um brinde (de café com leite) a toda bobagem que nos higieniza.

Nenhum comentário: