sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Outras dez sinopses que também não sei se há, mas poderia haver


De repente um jovem comum começa a receber cartas. Cartas, cartas e mais cartas de todos os lugares, em todas as línguas. Mas as cartas não lhe são destinadas; são as mensagens que se extraviaram pelo planeta e que, por algum motivo, acabam redirecionadas para seu endereço. Como não adianta enviar novamente a cartalhada para os reais destinatários (sim, o jovem tenta – e elas sempre voltam), ele, receptor aleatório da correspondência perdida, se põe a responder a cada remetente, inicialmente apenas com um comunicado padrão, e no decorrer dos meses com um crescente envolvimento nos assuntos de seus amigos compulsórios.

Uma freira reclusa, astrônoma amadora, descobre indícios de vida hostil em dois astros próximos da Terra. Ela precisará sair temporariamente de seu retiro e convencer autoridades mundiais de que não está tendo nenhum tipo de delírio religioso, existem de fato espécies na vizinhança que pretendem nos assassinar beeem aos bocadinhos.

Dois amigos desenhistas de mangá rompem a broderagem quando, num concurso de novos talentos, um rouba a história do outro. O enredo "sequestrado" é premiado, porém os personagens se revoltam contra o afastamento de seu verdadeiro criador e iniciam um motim quadrinesco: mudam falas, sabotam desenhos e se comportam de maneira inapropriada sempre que o falso autor não está olhando.

(Por falar em não estar olhando:) uma mulher cisma que não consegue mais ver a própria imagem no espelho, e que, ao contrário, é esta que fica acompanhando todos os seus movimentos, aproveitando-lhe a distração. Sem observar melhoras no quadro da moça durante o tratamento, sua família decide buscar e contratar uma sósia, que é instruída a aproximar-se da paciente e fazer amizade com ela como se fosse um reflexo fujão a visitá-la, acalmá-la, avisá-la de que só desejava umas férias ligeiras. A princípio a estratégia dá certinho, mas a mulher perturbada logo se pega de obsessão pela presença de seu reflexo e acredita não ser mais capaz de resolver suas questões sem a "própria" consultoria.

Um rapaz se apaixona por uma jovem trans e teme a reação dos pais. Num primeiro momento, sua mãe se mostra realmente angustiada – sem ser, no entanto, pelas razões que ele imagina, conforme ela depois lhe confessa: na verdade, ela mesma passou uma vida tentando ignorar o fato de ser um homem trans, especialmente por temer a reação do filho, e agora não sabe como se sentir ao pensar que ele, provavelmente, lhe teria dado desde cedo o seu apoio.

Três irmãs do século XIX montam um clube secreto de mulheres casadas em que todas aprendem, juntas, como se defender dentro de seus relacionamentos abusivos.

Três irmãs do século XXIII finalmente concluem uma pesquisa sobre teletransporte e começam a disponibilizá-lo no dia a dia; porém, apesar de o processo se provar seguro para a estrutura física dos humanos, começam a pipocar os casos em que repetidas "viagens" parecem estar, psicologicamente, transformando Jekylls em Hydes.

Também no século XXIII (por favor, humanidade, não me decepcione), as pessoas dispõem de um mecanismo que lhes permite, se desejarem, revisitar pesadelos de infância a fim de resolvê-los em definitivo. Aaaaah, mas é claro que pelo menos UM indivíduo vai ficar preso por lá.

Deprimida e desanimada com seu emprego, uma condutora de metrô faz um desabafo tocante no microfone enquanto realiza o que considera ser sua última condução de trem, já que pretende pedir demissão e mudar radicalmente a vida, talvez mochilando pelos continentes. No entanto, os passageiros adoram as palavras, pedem que a funcionária continue a dizê-las todos os dias e ela, surpresa, concorda. As composições guiadas pela moça passam a ficar lotadas, tornam-se um tipo de terapia poético-ambulante e ganham fama internacional.

Um pré-adolescente acha esquisito demais o fato de nunca, nem uma vezinha, ter conseguido lembrar-se de algum sonho. Do nadíssima, sua mente noturna passa a captar (e a mente diurna a reproduzir) figuras, coordenadas, sons que, aparentemente, configuram transmissões feitas da Lua.

(Continua?)

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