terça-feira, 15 de junho de 2021

Shippados


Shippar tem sido, há mais de década, uma distração incontrolável de pessoinhas que andam chafurdando na arte de amalgamar, sob um mesmo nome, duas individualidades que são ou DEVERIAM SER um casal, uma equipe, uma dupla de bromance ou de sisteridade, sei lá mais o quê. Normalmente é um casal que se transforma em pacote – como Bruna Marquezine e Neymar, no já expirado ship Brumar, e Brad Pitt e Angelina Jolie no clássico Brangelina, também expiradíssimo –, o que me incomoda um monte por motivos óbvios: amor nenhum, nem de séculos ou milênios, faz as criaturas se tornarem um McLanche Feliz com itens que não podem ser entendidos ou vendidos separadamente; e é mesmo este o objetivo, que o amor faça os eus aperfeiçoados, aprimorados pelo convívio, não dissolvidos num combo de dependência que só opera e só é compreendido em conjunto. Sim, sim, é muito lindo o êxtase amoroso de que falei aqui apaixonadamente há alguns dias – e sustento tudo, tudíssimo –, porém é uma ilusão de unidade platônica para uso exclusivo, interno e recreativo do casal; fora da intimidade, é extremamente fundamental que ambos se percebam sim como parceiros incondicionais, mas não como um ship, um puxadinho recíproco, uma espécie de venda casada. E é igualmente fundamental que olhos externos, alheios, também não se acostumem a ver como um perfil unívoco o que são duas subjetividades contíguas, semelhantes talvez, harmônicas de preferência, e ainda assim isoláveis em suas necessidades específicas.

Mas isso tudo são observações sisudas que cabem para gente de carne e osso; com personagens podemos livremente brincar (para isso mesmo eles servem, ora pílulas) e bancar os maiores alcoviteiros do multiverso, sem dramas alguns. Deixem-me, pois, me divertir aqui correio-eleganteando umas duplas improváveis da ficção, que o mês é dos namorados, das grudadices, das santo-antonices e não há maneira mais segura de exercitar o Eros flecheiro que vive em nós:

💗 B.E.N., o robozinho desmemoriado de Planeta do tesouro, e Úrsula, a vilã de A pequena sereia: casal B.E.N.-Ur, claro. Concordo que existe um certo conflito entre ele ser metálico e ela ser marítima, porém esse exatinho detalhe pode render um relacionamento moderno e fresco, com encontros fortuitos e um quê de perigo esquentando as máquinas. Além do mais, quem melhor que um galã de memória desparafusada para lidar com o passado trevosíssimo da bruxona?

💗 Joe Gardner, protagonista de Soul, e a rainha Elsa de Frozen: casal Gardel – que ali pode faltar fogo; paixão, não. O rapaz certamente amaria acompanhar ao piano os lerigous de sua diva, ela certamente amaria aquecer de jazz as noitadas de sua Arendelle; de quebra ela ganharia uma mãe postiça, e ele uma irmã com cunhado a tiracolo – mais a alminha 22 e Olaf juntildos, produzindo fofura.

💗 Namor, o Príncipe Submarino, e Ororo Munroe, a Tempestade dos X-Men: casal Namoro, muito evidentemente. Vamos combinar que a química dos bonitinhos seria tornádica e maremótica, apenas talvez não perfeitamente adequada para navegantes desavisados.

💗 Salsicha, de Scooby-Doo, e Arya Stark, de Game of thrones: o casal Salarya parece e é absurdo, mas alguém vai negar que o moço seria o menos empata-luta possível na vida da menina, e que adoraria ver todos os seres aterrorizantes sendo devidamente eliminados por sua crusha?

💗 Emília, do Sítio do Pica-Pau Amarelo, e Pinóquio: casal Empino, unido por motivos ululantes; nenhum deles tem um histórico exatamente angelical e, entre macelas & madeiras, sobra a ambos a experiência de ser brinquedo e virar gente, ou bem quase.

💗 Hebe Marreca, a "Pata Feia" de O galinho Chicken Little, e Tio Patinhas: dentro do casal Marretinhas, duvido que o avarento em questão ousasse não fazer a coisa certa; diveeeeeersos papolitizados encheriam o ninho do empresário sobre a importância de redistribuir patacas.

Duvidareis com certeza, e no entanto jurarei que não, não fiz uso de nenhuma substância ilícita antes de delirar essas loucuras tamanhas – salvo se o Brasil já estiver sendo listado pelas entidades competentes como alucinógeno. Caso contrário, garanto-me em total sobriedade, total posse de minhas (cof, cof) faculdades mentais. E acrescento: aceito de bom grado mais uns ships lokões em contribuição.

Cartinhas de amor para a redação.

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