domingo, 5 de dezembro de 2021

O Cinco


Há datas, como a de hoje, que parecem um Triângulo das Bermudas de gente imensa (falar nisso, em 5 de dezembro de 1945 um voo de CINCO aviões desapareceu exatamente onde? onde?...): no ano de 1791, foi-se de nós o querido Mozart; em 1870, Alexandre Dumas; em 1891, centenariando o falecimento de Mozart, partiu nosso D. Pedro II; em 1926, Claude Monet; em 2012, Oscar Niemeyer; no ano seguinte, Nelson Mandela. Juro juradinho; o Cinco de Dezembro conseguiu passar serial-killermente o rodo na música, na literatura, na pintura, na arquitetura, na política, fora a propensão para mastigar aviões e promover outras desgrameiras – expulsar os "hereges" de Portugal em 1496, por exemplo; dar um golpe militar também em Portugal, já nos vindos de 1917; abandonar (sob forma de Napoleão Bonaparte, o verdadeiro abandonão nesse caso) o exército francês numa merde federal em plena Rússia; descer um grande e frio nevoeiro sobre Londres em 1952, e causar com isso, pela combinação com a poluição do ar, a morte de 12 mil pessoas nos meses seguintes. Sério, gente. Aparentemente jazemos numa data bermudamente triangulada, e (socorro) tudo pode acontecer nas próximas horas.

Óbvio, nem tudo deixou de ser flores neste quadradinho sui generis do calendário. Gente incrível também nasceu, tipo Fritz Lang (que não só realizou Metropolis e M como deu um belo perdido em Hitler), Walt Disney (OK, há controvérsias sobre o moço, mas não sobre o legado de enfofuramento que deixou para tantas gerações), o nosso extraordinário guerreiro Carlos Marighella, a arquiteta Lina Bo Bardi, Little Richard, José Carreras, Egberto Gismonti. Coisas luminosamente importantes também aconteceram, como a fundação da Cruz Vermelha brasileira (1908) e da Funai (1967), as descobertas do imunologista Lloyd John Old (1964) a respeito da resposta imune, a dissolução da Junta Militar da Argentina (1983), a adesão da Ucrânia ao Tratado de Não-Proliferação Nuclear (1994). Dia algum poderia deixar de trazer ao mundo uma menor ou maior coleção de alegrias – seria estatisticamente improvável, eu diria mesmo impossível, por mais que contemos apenas estes 2021 anos gregorianos que fingimos achar serem os únicos. Ainda assim, recomendo cautela, tendo afinal sido este parágrafo apenas uma piscada boazinha antes de voltar à carga e atormentar os que acreditam nessa bobagem de data cabalística. Deixem-me apenas limpar a garganta e sigamos.

Dou um pedaço de chocotone imaginário para quem acertar em QUAL noite o Krampus, figura chifruda e assustadora com origens no folclore germânico, "sai" junto com o Papai Noel para ser precisamente um antiPapai Noel, ou seja, infernizar e levar embora num saco as crianças que foram pestinhas durante o ano (siiiiim, queridos, podem checar aqui essa tradição horrorosa). Mais esquisitices? Em 5 de dezembro de 2019, uma pessoa avistou e filmou dois pombos em Las Vegas portando minichapéus de caubói. Em 5 de dezembro de 1956, um míssil americano foi lançado na Flórida para um bate-e-volta entre o Cabo Canaveral e a ilha de Porto Rico, mas docemente PAROU de obedecer aos comandos e decidiu rumar para o território brasileiro, onde foi encontrado 25 ANOS DEPOIS, no Maranhão. Em 5 de dezembro de 1975, o jornal Notícias Populares veio com a manchete "Pescadores dizem que há um monstro na [represa] Billings" – e sim, isso significa um Nessie na região da Grande São Paulo, nadando gloriosa e lenda-urbanamente num suco de data esquisita.

Modos que, se forem hoje pra night, não deixem de meter atestado de bons antecedentes no saco, evitando assim o aborrecimento de irem parar em outro e acordarem triangulando num imenso fog, na corcova duma criatura pescoçuda, usando chapéu de caubói em pleníssimo inverno russo. Depois não digam que eu não avisei.

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