sábado, 11 de dezembro de 2021

Sinopses pré-natalinas que não sei se há, mas poderia haver


Uma mulher que perdeu o contato com a família por 23 anos é finalmente localizada e chamada para um Natal entre os seus – porém, apavorada com a perspectiva após uma solidão retiradíssima e compridona, contrata uma atriz mais ou menos de sua idade e com as mesmas características físicas para que assuma seu lugar na ceia. O primo que era apaixonado por ela logo percebe, entretanto, que não se trata da crush com a qual cresceu, o que o perturba ainda mais porque se descobre afetivamente dividido entre suas memórias de adolescência e a "nova" prima natalina (a quem não denuncia por achar, racionalmente, que a família ganha mais se mantiver consigo a versão aperfeiçoada da parente arredia). Mas o comentário escapante doutro primo faz o primeiro se dar conta de que, na realidade, TODOS os familiares notaram a impostura desde logo, e tomaram tacitamente a mesma decisão do apaixonado.

Numa cidade pequenamente pobre e aleatória, presentes começam a surgir nas casas semanas antes do Natal, atendendo quase sempre (mas às vezes de modo confuso) a necessidades ou desejos reais dos moradores. Cria-se o boato compreensível de que o Papai Noel anda em adiantamentos, até que uma tocaia desenrola o enigma: eis que um bisneto um tanto desparafusado do bom velhinho selecionou a cidadezinha para estágio, já que o processo de entregas natalinas, de tempos em tempos, abre licitação – e o moço carece dum bom treinamento a fim de manter os negócios na família.

Uma escola promove a atividade "Nossa versão do Papai Noel", em que as crianças pensam e desenham em conjunto uma proposta diferentchenha para o ícone. Acaba saindo da brincadeira a imagem de um monstrinho multiolhudo e (semi)fofo, que escapole do mural toda vez que a escola está fechada e tem opiniões MUITO próprias a respeito da distribuição de presentes – especialmente para pessoas do entorno que de alguma forma vêm prejudicando a comunidade escolar, como o empresário que não paga à galera da limpeza, o marido que maltrata a tiazinha da merenda e o patrãozote que explora os pais e mães de alguns alunos.

Um sujeito obcecrazy por enfeites natalinos compra bolas lindíssimas de cristal numa loja velhíssima de antiguidades, o que em qualquer sinopse sensata se mostra uma péssima ideia. Após armar sua árvore com destaque para as comprinhas de gala, o homem começa a notar que, de pouquito em pouquito, toda a casa à sua volta e ele mesmo parecem diminuir, mas naturalmente considera a sensação absurda e a atribui ao estresse de fim de ano. Um dia – já consideravelmente fraquildo e encurvado por uma virose que não o larga – o cidadão se dá conta de que vozes minúsculas partem das casinhas que ficam dentro dos penduricalhos de cristal, e aparentemente gritam socorro de maneira cada vez mais audível.

Pena que quebrar os enfeites famintos (ou ficar longe deles) já se tornou impossível.

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