terça-feira, 28 de dezembro de 2021

Sinopses de Ano-Novo que não sei se há, mas poderia haver

Numa cidadezinha dessas em que algo dará ruim cedo ou tarde, começam a brotar toneladas de flores maravilhosas e esquisitas, muito coladinhamente à virada do ano. Quanto mais se achega a mudança de folhinha, mais a floração branca se espalha, domina, embalofa; o problema (que não se mostra um problema para boa parte dos locais, encantados com o formato e perfume da espécie misteriosa) é haver um desespaço completo para os habitantes em meio a tanta fulô. Nada que uma boa contagem regressiva para o ano seguinte não resolva: é o cronômetro da praça zerar e todos, absolutamente TODOS os moradores desaparecem, como se a cidade nunca houvesse existido habitadamente. Um dia depois do aparente arrebatamento, testemunhas de fora observam, saindo da cidadezita, um tipo de peregrinação lenta feita de seres esbranquiçados – parece que robustalhudos e nutridos como se para 365 dias de paciente digestão.

Um rapaz pede para ser escalado no plantão de Natal, a fim de ficar a sós com a crush de anos e finalmente se declarar para ela. Contece que a moça, por causa duma conversa entre e mal-ouvida, passa a acreditar que o sujeito detesta animaizinhos – e atravessa o plantão todito fugindo como doida de qualquer aproximação de seu apaixonado, apesar de também se sentir atraída por ele há tempos. No dia seguinte, uma colega em comum desfaz o engano em que caiu a Julieta atrapalhada, e esta dedica a semana a tramar um plantão romântico de réveillon com o pobre Romeu, sem saber que ele (arrasadíssimo com o fiasco de sua Grande Tentativa) decidiu pedir transferência de filial por não suportar mais a visão diária da amada no trabalho.

Cinco pessoas avulsas se conhecem na queima de fogos em Copacabana. Com meia hora de papo, entretanto, parecem notar que não há real coincidência ou avulsidão: todas receberam mensagem no WhatsApp de alguém conhecido – cada qual de um amigo diferente – marcando encontro naquele mesmo local. Não seria uma evidência nada extraordinária se as mensagens não fossem idênticas, letra a letra, o que faz o grupo conversar sobre a possibilidade de o remetente ser um só e se utilizar de vários nomes; o fato de o marcador de encontro não aparecer para nenhum dos convocados reforça bastantemente a ideia. Na verdade o provocador, que é realmente o mesmo nos cinco casos, avisou cada recrutado sobre a reunião, dando-lhes porém a certezinha de saber o segredo exclusivamente. E o porquê da farsa? Eis que o Convocador é um roteirista espertchenho que, em busca de material fresquito, encarregou cada um de seus "espiões" de lhe narrar a experiência da virada em Copa; nada mais da hora em termos de script, afinal, que uma boa, velha e suculenta confusão polifônica.

Toda dança de meias-verdades é uma orquestra sinfônica.

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