sexta-feira, 17 de julho de 2020

Coração, sorriso, coração

Two Yellow Emoji on Yellow Case · Free Stock Photo

Eu não sabia que havia, mas não há o que não haja: 17 de julho é o Dia Mundial do Emoji. A data foi escolhida por ter sido aquela em que a Apple anunciou, nos idos de 2002, seu aplicativo de calendário – e é a mesma registrada no próprio emoji de calendário usado pela empresa. Nunca fui cliente da Maçã, mas acho pertinente e fofa a homenagem a essas figurinhas sorridentes (ou bravas, ou apaixonadas, ou choronas), das quais me assumo fã carteirinhada.

Existem os eternos ranzinzas que teimam em comparar a profusão de emojis na comunicação moderna à primitivice das pinturas rupestres, aos hieróglifos dos privados de alfabeto, como se o emprego dos smilezitos e afins reduzisse o poder da palavra escrita. Bitch, nada reduz o poder da palavra escrita. Emojis são assessores e acessórios, comentam e enriquecem os meandros do texto tanto quanto um colar ou uma bolsa comentam e enriquecem o traje, sem por isso substituí-lo. Sou profissional de Letras; é de crer, portanto (e é fato), que eu ame, cultue, aspire, lamba, venere o texto grafado; porém não vejo qualquer inconveniência ou incompatibilidade em adotar alegremente esse acréscimo à língua, que normalmente agradece pela soma do brinquedinho a seus recursos. 

Claro, há mãozinhas preguiçosas, que consideram um gélido sinal de joinha como resposta bastante para (digamos) um recado amoroso. Mas nesse caso a geladeira está no preguiçoso e não na preguiça; se o mesmo cidadão – ou engenheiro civil formado – apertasse duas, cinco, quarenta vezes os emojis com olhinhos de coração e beijitos piscantes, economizaria igual quantidade de raciocínio verbal sem com isso denunciar um descaso de iceberg; e ao mesmo tempo, se respondesse digitando um "tá" ou um "OK", pareceria tão desalmado/ indiferente/ irônico/ incrédulo como se se limitasse a estender o polegar. A eventual pobreza não está na expressão, está no expressador – e é reconfortante, para os inseguros como eu de não estarem involuntariamente ofendendo a percepção alheia, poder contar com o auxílio luxuoso da imagem para fazer as vezes de entonação, temperando e ressignificando a substância. Uma coisa é o "tudo bem" teclado a seco, abrindo-se a dúvidas; outra é o "tudo bem" escoltado por carinhas de olhos revirados, resumindo um universo de "tá, né, abusado, vou resolver mais essa, que escolha tenho eu?"; outra coisa ainda é o "tudo bem" acompanhado de piscadinha, beijinho, olhitos apertados e risonhos, como síntese afetuosa de "sem problema, querido, compreendo perfeitamente, fique tranquilo, por mim está resolvido". Gulosa que sou, adepta da fartura do cardápio, uso emojis aos potes, às toneladas, sem medo de ser infantilmente feliz – e ainda somo GIFs, figurinhas e o que mais vier aos dedos para traduzir tão fielmente quanto possível o destrambelhado, contraditório, ansioso texto de dentro. 

Sou da gramática sim, mas da diagramática na mesma vibe; apoio que norma e forma se abracem, que grafia e gravura se pareiem na dança. A comunicação humana é um megaboteco de Star Wars em que bebem, papeiam e confraternizam os tipos dos mais variados planetas, sem nenhuma galáxia inventada no meio.

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