quinta-feira, 18 de junho de 2020

36 formas de vida inteligente

Árvore cérebro Foto stock gratuita - Public Domain Pictures

Pesquisadores da universidade inglesa de Nottingham descobriram que pode haver 36 formas de vida inteligente fora da Terra (o que já deixa a ETzada em larga vantagem com relação à própria Terra, aliás), e ainda na Via Láctea. Infelizmente, na melhor das hipóteses, os vizinhos extraplanetários mais próximos com que se poderia trocar uma ideia cósmica estariam a pelo menos 17 mil anos-luz do nosso quintal – tipo da coisa que enfraquece a amizade. É chato, seria interessantíssimo fazer uns desabafos e pedir um conselhozinho ou outro em termos de evolução, mas paciência; continua sobrando a aventura de prospectar espécimes aproveitáveis por aqui mesmo, e já é um suadouro. De minha parte, sairia dando piruetas de euforia se, depois de alguma labuta, conseguisse reunir num grande bate-papo da ONU – num Hall da Justiça universal – 36 formas de vida inteligente e terráquea, prata da casa:

Uma vida que legitimamente torcesse pelos seus pares. Uma vida que tivesse, sobre povos aos quais não pertence, conhecimentos ímpares. Uma vida que se sentisse impelida a buscar conhecimento sobre povos aos quais não pertence. Uma vida que se sentisse impelida a buscar conhecimento sobre o povo ao qual pertence. Uma vida que soubesse não ter a menor obrigação de escolher entre ser bruxo, mutante, vingador, fada, Cavaleiro do Zodíaco ou jedi. Uma vida que compreendesse ser absolutamente impossível cultivar preconceitos gostando de X-Men ou Star Wars. Uma vida proletária que se reconhecesse proletária na plena consequência do termo. Uma vida proletária que defendesse com fúria a taxação das grandes fortunas. Uma vida proletária que defendesse sem medo a inexistência das grandes fortunas. Uma vida que deixasse o computador chocado com sua criatividade humana no xadrez. Uma vida que lesse poemas para o filho desde os primeiros dias de gravidez. Uma vida que, por meríssima cisma e paixão, aprendesse sozinha catalão, mandarim, búlgaro, bengali ou polonês. Uma vida que, perita em amor profundo, adotasse sete vidas de uma vez. Uma vida calcada inteira em verdades. Uma vida incapaz de incensar mentiras. Uma vida enraivecida com o império das bolsas de valores. Uma vida sem necessidade de celulares. Uma vida com mão infalível para temperos.

Uma vida que holofoteasse o próprio medo para não ser assombrada (ou sombreada) por ele. Uma vida que soubesse viajar sozinha em todos os seus desdobramentos. Uma vida que descobrisse curas indiscutíveis para horrores biológicos. Uma vida que tocasse (afinadamente) violino na janela. Uma vida que ensinasse vidas a tocar violino na janela – ou contar, ou escrever, ou pintar, ou andar de bicicleta, ou fazer biscoitos. Uma vida que passeasse com crianças em museus. Uma vida que levasse crianças a bibliotecas, cinemas, teatros, especialmente crianças que nunca viram ou veriam bibliotecas, cinemas, teatros. Uma vida que soubesse os nomes das constelações. Uma vida que fosse hipnótica em contar histórias. Uma vida que espalhasse abraços e árvores. Uma vida que usasse perfeitamente os equipamentos de segurança. Uma vida que se entregasse à literatura. Uma vida que desse esperança mundial em medicina. Uma vida que abominasse terrorismos, inclusive de "depois te falo" ou "precisamos conversar". Uma vida antirracista. Uma vida antifascista. Uma vida feminista. Uma vida pronta a doar voz, tempo, glicose, sal, sangue, alma, braços, neurônios para que todas as vidas importem.

Por sorte, várias destas existências evoluídas eu já conheço sem telescópio nem tanta pesquisa, e estão condensadas nos mesmos corpos feitos de amor e força. Que contagiem o resto do planeta com esses tão melhores vírus; que se empoderem e se alastrem. É com o amor e a força do lado de cá da atmosfera que precisamos de contatos imediatíssimos em todos os graus.

2 comentários:

Celso Trancoso Clemente disse...

De tão bela, hoje fui procurar a sua companhia de leitura para o café da manhã. Que sonho que podemos ser e fazer real, sem esperar. Eu tenho um negócio aqui, que eu chamo de Plano de Evolução Consciente. Umas duas ou três coisas que falas já estavam lá, mas vou pegar e incluir o resto. Obrigadi pela companhia no café de hoje.

Fernanda Duarte disse...

Obrigadíssima a você pelo carinho de sempre, querido Celso! É uma meeeega honra lhe fazer companhia! Beijãozão! 😘😘😘