quarta-feira, 24 de junho de 2020

Terceiro grau

Ovni Extraterrestre Bienvenido - Imagen gratis en Pixabay

Vocês podem achar que estou de mangação, mas juro: hoje é o Dia Internacional do Disco Voador. Diz que a história começou nesta mesma data em 1947, quando um piloto americano garantiu ter visto nove OVNIs nas proximidades de Washington; para ficar mais palpitante, poucos dias depois teriam sido descobertos a nave e os etezinhos do caso Roswell. Lamentavelmente, meu bom senso acreditou nos 17 mil anos-luz que, há cerca de uma semana, os cientistas afirmaram ser necessários para um contatinho com a vida inteligente mais próxima (tenho essa coisa demodê de acreditar na ciência, apesar de nossas limitações); não posso dizer, portanto, que levo fé na visita dos coleguinhas de além-céu. Nem sei se queria levar. Em minhas memórias, nunca foi algo que me preocupou minimamente. A máxima questão que me ocorreria nesse assunto é: sendo convidada VIP, tipo Contatos imediatos do terceiro grau, eu toparia embarcar numa navezona rumo a sei lá o quê, desde que os tripulantes tivessem o nível de adorabilidade dos alienzitos do filme?

Olha. Toparia.

Creio coraçãomente na evolução humana (não estou sendo irônica, que feio vocês pensarem isso), no entanto é desesperador, é lento, é frustrante, demora. Lá na última gaveta d'alma eu sei que chegaremos lá; mas por que não tentar dar uma força no processo abraçando um curso de formação intensiva, um workshop zero-oitocentão oferecido por universidade BEM estrangeira? OK, os terráqueos terraplanistas provavelmente não reconheceriam o diploma nem aceitariam aulas sobre o conteúdo, depois que eu retornasse do intercâmbio toda trabalhada no compartilhamento. Euzinha já teria antecipado essas amofinações, porém, e não sairia da nave sem as mais avançadas técnicas de persuasão daqui até Andrômeda, ou sem algum aparelhinho delicioso que procedesse ao realinhamento dos neurônios (Darwin que me desculpe, mas: sem tempo, irmão). Não me falem em dilemas éticos, não quero lobotomizar ninguém – só dar uma desentortada num cérebro ou noutro e salvar o planeta da autodestruição, ambições simples e saudáveis. Por sinal que meus professores galácticos, consternadíssimos com os casos que eu relataria sobre um povo que se esfrega alegremente na extinção e no vírus, seriam os primeiros a embrulhar uns 432 aparelhos desemburrecedores para eu trazer de brinde. Just in case.

Mas quem garante que a abdução voluntária seria viagem com volta? – ora, direis. Ninguém garante, é fato. Ainda assim, vão dizer que não confiariam nos etezinhos fofíssimos do jovem Spielberg? Eu confiaria ao me autofazer um discurso: se as criaturas têm tecnologia suficiente para contrariar tudo que sabemos de física e mandar a regra dos anos-luz para o (hum) espaço, já são evoluídas a ponto de terem deixado para trás as pulsões de morte e destruição que caracterizam nossa barbárie. O sujeito que aprendeu a dar salto quântico não teve tempo de querer guerra com ninguém, ao contrário; provavelmente está cheio de amor e conhecimento pra dar e é habitado pela fúria de partilha dos precursores, que não veem a hora de: "sabem o que eu descobri? hein? hein?". Na dúvida, fico também habitada pela maior fúria de nossa espécie – pela curiosidade humaníssima da busca, da entrega, do pulo nos braços da aventura oferecida. Não seria eu quem enjeitaria a chance sagrada da Experiência em maiúscula, com medo mesmo; se anda sobrando medo aqui sob a nossa atmosfera, custava pouco transferi-lo para novos ares. Ou ausência deles. 

Só peço aos prôfis cósmicos algum sinalzinho antes de um próximo recrutamento (coisa de estrela cadente ou eclipse imprevisto já dá conta), bem como um boletim meteorológico básico lá dos infinitos aléns e as especificações da bagagem de mão. Sou terráquea mas não sou bagunça; não é porque a pessoa foi chamada entre bilhões para desvendar uns mistérios do universo que vai sair sem levar um casaquinho.

Nenhum comentário: