terça-feira, 4 de agosto de 2020

Ave, Felipe

Felipe Neto aceita convite de Maia para discutir PL das fake news ...

Sou insuspeita para falar de Felipe Neto: nunca fui fã, nunca frequentei, nunca defendi, já até dei uma escondidinha no livro dele em uma loja, noutros tempos. Hoje, se o encontrasse, eu o abraçaria vigorosamente, e não tenho o menor problema em declarar aqui minha admiração por sua inteligência notável. Fiquei inteiramente encantada com a cascata de argumentos e com a perfeição de seu inglês naquele vídeo para o New York Times, e igualmente encantada com sua recente participação no Roda viva, em que ele transbordou características que me fascinam ao extremo: imenso conteúdo, invejável objetividade (nem consigo expressar o quanto acho sexy alguém responder EXATAMENTE ao que foi perguntado, sem rodeios, sem eufemismos, sem cerca-lourenços), bom humor, paixão de quem está íntegro no que fala e a valorosíssima, raríssima facilidade de admitir que já errou em muitas coisas, que sobre este ou aquele ponto ele não é especialista, que não tem todas as informações e vai pesquisar aquilo de que não tem certeza. Não sei para vocês, mas para mim a honestidade intelectual disputa acirradamente o topo do pódio das qualidades mais sedutoras. 

O download de meu amor cerebral pelo rapaz foi concluído com sucesso durante a entrevista concedida à GloboNews, nesse último domingo. Felipe deu um show absoluto ao discorrer sobre os métodos de propagação das fake news – sabiam que muitas daquelas arrobas cheias de números e letras, no Twitter, nem são robôs afinal de contas, e sim gente que topa a primeira sugestão de nome de usuário só para entrar na rede social e divulgar o que o grupo de WhatsApp mandou? pois é, eu também não sabia, os entrevistadores também não sabiam –; declarou com todos os efes e erres que se recusa a falar com a CNN Brasil, devido ao espaço que a emissora cede condescendentemente aos negacionistas da pandemia; citou Osmar Terra entre esses negacionistas, criticando às claras sua insistência absurda em dizer que a crise pandêmica sempre vai acabar na semana que vem; cobrou do jornalismo que jamais deixasse os entrevistados soltarem despautérios científicos sem interrompê-los e corrigi-los, dando como exemplo um caso da CNN internacional, no qual a apresentadora desmentiu o interlocutor a respeito da eficácia da cloroquina contra o corona (e, como o cidadão teimasse no assunto, encerrou a conversa). Em todos os momentos, enfim, o youtuber foi claro, didático, direto, assertivo, mostrou embasamento com números e pesquisas, exibiu as provas e a enorme segurança de quem não afirma nadinha de orelhada. Um colírio. Uma almofada. Um oxigênio. 

É facílimo ver por que os bolsonaristas andam tão desesperados para caluniar e destruir Felipe Neto, cujos méritos tenho agora a felicidade de conhecer: o moço é um fenômeno da comunicação, articulado, brilhante, carismático, e tem mais seguidores do que Aquele Que Não Deve Ser Nomeado teve de votos – seguidores estes, conforme alguém já observou, que em boa parte se encontram na adolescência e estarão aptos para ir às urnas e decidir as próximas eleições presidenciais. Entre as sujeiradas que os infames têm praticado, a mais cruel é a de acusar o influencer de ligações com a pedofilia (típico: TODA campanha de difamação por fake news apela para essa estratégia canalha); chegam mesmo a caçar vídeos feitos por Felipe há dez anos – vídeos NÃO direcionados a crianças, com maior presença de palavrões etc. – e editá-los, picotá-los, torcê-los, meter uma trilha sinistra, tudo para retratar o moço como um bicho-papão e estimular os pais a afastar dele sua jovem audiência. Felipe fala também sobre isso com sua tranquilidade incisiva, esclarecendo que as produções mais antigas eram dirigidas a um público mais velho, mas que, com o sucesso de seu irmão Luccas entre os menores, ele foi igualmente "herdando" esses espectadores e modificando o conteúdo e a linguagem. É evidente (autoanálise do próprio) que ele escutou, estudou e mudou muito ao longo desse período. Parece estar dando muito certo: já ouvi relato de criança dizendo aos familiares ter aprendido, num vídeo de Felipe Neto, que "não basta ser racista, é preciso ser antirracista". Fosse eu mãe, mandaria um bolo quentinho para o rapaz e uma cartinha fofa agradecendo pelos séculos dos séculos.

Se você é a mesma pessoa de dez anos atrás, tem alguma coisa errada – disparou o youtuber na entrevista. Não tenho como discordar. Outro dia pilhei um texto meu de há menos tempo que isso, em que afirmava não ser de direita nem de esquerda, e essa ignorância me soa hoje como o maior dos disparates; como assim?? Sou de esquerda total, esquerda até o último fio de cabelo e até o último dia de vida. Já esbarrei com outras estapafurdices que agora não escreveria nem sob tortura. Acontece. Se não nos aprimorássemos, se não evoluíssemos, não haveria muito o que fazermos por aqui; ou já teríamos nascido todos conhecedores e impolutos, ou estaríamos fadados a não alimentar esperanças de melhora. Felipe Neto se reconhece melhor, e não vejo o menor obstáculo para concordar plenamente que se trata de um preciosíssimo aliado na luta antifascista, no esclarecimento de novas gerações, na batalha contra o mas-mas-mas cheio de dedos da imprensa atual, na destruição das fake news. Não que ele precise do meu aval – quem sou eu na fila do pão?? –, porém fico feliz de abraçar com minha voz pequenina a sua voz inteligente, representativa e firme.

Estamos juntos, Felipe. É muito bom contar com sua companhia nesta direção.

Nenhum comentário: