quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Louca do like

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Sim, eu mesma. 

Não estou bem certa de como isso se dá com os demais – tenho motivos para crer que são pessoas muito mais sensatas e sabem distribuir suas reações com muito maior parcimônia –, mas eu, no Facebook diário e nas pouquíssimas visitas ao Twitter, sou possuída pelo espírito de uma daquelas meninas das flores que saem, nos casamentos, espalhando pétalas de sua cestinha. Uma menina das flores em versão galopante e alucinada. Raramente consigo passar incólume por uma postagem que me caia sob os olhos, ou raramente elas conseguem passar incólumes por mim; vou fatalmente cutucar as coitadas com alguma das carinhas oferecidas pela equipe do Zuck, seja porque quase todas as imagens e textos de fato me trazem determinado afeto, seja porque ando na timeline ao estilo Crocodilo Dundee de andar na cidade grande, ou seja, sentindo a estranha obrigação de tirar o chapéu e dar bom-dia a todo mundo. 

Ainda por cima me vejo culpadíssima se apenas marco um joinha para o post em análise: puxa, fui tão fria e neutra em caso de tanta celebração/desolação/indignação/estupefação, preciso deixar beeeem grifadamente declarado meu envolvimento no processo. Não me perguntem por quê, ou vou ser forçada a mandar a psicologia um-sete-um que me está ao alcance e arriscar que é metade alergia à incompreensão, metade vontade de personalizar tudo. Simultaneamente desejo para o outro e para mim a clareza de sentimentos, desejo estar ali cristalinamente para ambos; tanto meu amigo ou amiga sabe medir com miúda margem de erro o que aquilo me provocou quanto eu mesma sou capaz, em retrospectiva (porque o Face nada nos deixará esquecer), de me testemunhar naquele momento específico. Claro, é sandice que não tem nenhuma importância real, porém insisto nessa espécie curiosa de dissecação afetiva – provavelmente sem grande psicologia alguma para além do fato de eu sempre ter detestado o bege, o básico, a aparente neutralidade. Gosto de coraçõezitos, carinhas coloridas e coisas diferentes, pronto. Indulge me

Em termos de coraçõezitos, aliás, o estado é crítico, já que vou chovendo os danados que nem correio elegante de quermesse: lá vai a doida tacando coração inclusive em post de ilustríssimos desconhecidos. Para mim é sumamente simples e natural; se amei a paisagem, a foto, a roupa, a cor dos olhos, a maquiagem, o doguinho, o desenho, a legenda, o poema, o bebê, a obra, amei e acabou-se, quero lá saber de quem é? Felizmente nunca aconteceu comigo que um coração tenha sido mal interpretado (que tempos! em que um CORAÇÃO poderia sê-lo!), realmente nunca, e confesso ter ficado espantada ao esbarrar com memes que sugerem esse "likar efusivo" como um índice de interesse romântico. Cês juram que tem isso? Bem, ali pelo universo adolescente, talvez – ou então é mais uma amostra cabal de como ando frequentando a bolha certa, já que na minha ninguém se impressiona com meus ataques de fofura psicótica e encantamento tresloucado. Estão todos habituadíssimos a que eu envie GIFs, 8.754 emojis, figurinhas abraçantes e beijantes em profusão e demais manifestações de um amor canibal, e por enquanto nenhuma camisa de força ou princípio de treta me bateu na porta. Devem achar mais seguro não contrariar.

Espero de, hum, coração que tio Zuck também não me contrarie e faça a gentileza de providenciar mais opções para nossos transbordamentos: reações com olhinhos revirados, com apertamento de bochechas, com expressão de "eeeita, que vai dar ruim!" e, o mais urgentemente possível, com ansiazinha de vômito – que tem feito gigantesca falta em nossas timelines brasílicas. Quisera eu sair aos pulos virtuais apenas derramando rosas, mas a realidade definitivamente não ajuda; que pelo menos possamos contar com a carinha amarela regurgitando verde para representar, à altura, todo o legado da nossa miséria.

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