segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Impopularices

Foto profissional gratuita de amarrotado, amassado, bloco de anotações

Em alguns episódios do programa, os meninos do Papo de segunda encaram o quadro "Perdendo likes", no qual apresentam opiniões impopulares que eles possam ter e que virão fatalmente a provocar certo desgosto em parte da audiência. Embora eu já não tenha audiência para desgostar em parte, ou talvez por isso mesmo, me dou aqui ao desfrute de repetir a brincadeira; é às vezes divertido liberar o do-contrinha que habita em nós para um banho de sol. 

Tipo: odeio camarão. Odeeeeeeio. Esse bicho é um auto-rei Midas do mar: tudo que o camarão toca vira camarão. Não tenho qualquer alergia nem faria desfeita para o dono da casa, se a refeição oferecida necessariamente incluísse o vermelhinho (pelo menos de algum vermelho no mundo eu teria de não gostar); me falta frescura para comer, quase tudo eu traço ainda que não seja fã. Mas que odeio, odeio. Assim como azeitona e palmito. Por que pitombas voadoras tascam numa empada, por exemplo, uma azeitona que tudo também transformará em azeitona? Gente, azeitona é forte demais, impositiva demais; não pode ser compulsória assim não, credo, tem de democratizar, meter plebiscito. Pessoal distribui azeitona e camarão como se inocuamente estivesse semeando chuchu no mundo, aquela coisinha inocente em que ninguém repara. Tem de repensar essa marmota aí, taoquei? 

Outro ranço que coloca minha cabeça a prêmio é solo de guitarra – mas como negar? não suporto. Curto um barato (como diria Emicida) objetivo, com metas claras: vai, canta a música, os instrumentos acompanham o vocalista, muito bem. Reconheço que os instrumentistas merecem brilhar e sei que há guitarristas extraordinários, virtuosísticos, porém a consciência e o reconhecimento racionais não implicam que minha paciência concorde ou fique mais motivada; costumo realmente perdê-la quando os gritos dissonantes e meio robóticos da guitarra alongam demais a canção. Em geral a exibição escapa à melodia original e me irrita muito mais do que posso expressar. Mal aí, meu povo, a reação estomacal supera em muito a velocidade da apreciação teórica; me botem para ouvir um violão, violino, violoncelo por 72 horas, mas não me submetam a uma guitarra por 15 segundos. 

E já que estou aqui chafurdando na chatice, vambora derramar de baciada: acho in-su-por-tá-veis os programas escancaradamente afetivo-felizes, como um Tamanho família da vida, ou um "Arquivo confidencial" faustônico (estou longe de ser uma criatura amarga, vós sabeis, mas é que aí já me ataca a diabete que nem tenho; preciso de sabores menos agressivos, menos camarão, menos azeitona, menos guitarra. Ternuras menos óbvias, com menos horas marcadas, pode ser?). Na mesma linha, detesto comédias, ou prefiro-as mais inglesas (como conceito, não como nacionalidade), fora da escola basbaque americana. Só tive espaço para um anime no coração, Cavaleiros do Zodíaco, e nunca me entreguei a nenhum outro. Eu jamais seria do time Batman ou do time Homem de Ferro: playboys demais para mim. Por sinal, teria seríssimas dificuldades para amar qualquer homem rico – o mais provável é que eu fosse de fato incapaz, a não ser que desconhecesse completamente sua riqueza. Como já falei várias vezes, não tenho smartphone, não desejo um nem quero WhatsApp na minha existência, ever. Considero absolutamente cretinas todas as competições, porém conceber que uma criatura ganhe prêmio por esmurrar outra é para mim o cúmulo da insanidade humana. Ah, não, desculpem: a Bolsa de Valores é, para mim, o cúmulo da insanidade humana – sempre respeito mais aquilo que é mais direto e honesto, como o boxe ou o UFC. Não aguento mais o Chaves. Não curto carnaval, apenas o feriado que vem com ele. Não acredito em signos, não sei o que significam, não faço ideia do que seja ascendente e só estou ciente de que sou geminiana porque me informaram (como se vê, meu amor pelos Cavaleiros teve um total de zero por cento de influência neste sentido). Não gostava de Caverna do dragão nem de Thundercats. De pagode gosto menos ainda. Caio Castro e Cauã Reymond nunca foram meu tipo – é sério, não é que as uvas estejam verdes não, sou assim mesmo. Excetuando raríssimas situações que sequer me vêm à mente, vou preferir sempre o silêncio à música. 

Hum, claro, e não maratono séries. Estou aqui prontíssima para a guilhotina: podem me levar.

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