sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Coisas que também aconteceram num 11 de setembro

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William Coração Valente Wallace obteve uma vitória importantíssima sobre os ingleses. 

A primeira corrida foi realizada no autódromo mais antigo do mundo, em Wisconsin.

Uma sonda chamada Mars Global Surveyor atingiu feliz o planetinha vermelho.

Victor Hugo fez um discurso na Assembleia Nacional em Paris, opondo-se à suspensão dos jornais e defendendo a liberdade de imprensa.

Os Beatles gravaram seu primeiro disco nos estúdios da Abbey Road.

Karl Marx lançou o primeiro volume de O capital

Nasceram D. H. Lawrence, Theodor Adorno, Brian De Palma, Franz Beckenbauer, Taraji P. Henson, Luciana Lamorgese (ministra do Interior da Itália e defensora do acolhimento aos imigrantes), Jacinto Convit (médico venezuelano, criador da vacina contra a hanseníase e pesquisador de diversas doenças tropicais).

A ópera The Rake's progress, de Stravinsky – que chamava sua obra de O diabo do capitalismo, mostrando grande lucidez – estreou em Veneza.

O Auto da Compadecida estreou em Recife.

O Colégio Brasileiro de Radiologia foi fundado. 

O compositor e cantor Jacques Brel fez a gravação inaugural de "Ne me quitte pas".

A primeira história em quadrinhos da série Johan et Pirlout foi publicada no jornal franco-belga Spirou. Sabe quem começou nessa HQ como coadjuvante e terminou roubando tooooda a cena e os corações leitores? A turminha azul dos Smurfs, aqueles danadinhos cantarolões.

O italiano Armando Poppa, que tinha vindo trabalhar no Brasil com o parça Carlo Bauducco (sim, ele mesmo), abriu no Centro de Sampa sua própria confeitaria, a Cristallo. 

Os seis garotos protagonistas do "Milagre de Tonga" – caso incrível em que adolescentes náufragos sobreviveram por um ano numa ilhazinha inóspita – foram finalmente localizados por uma embarcação de pesca.

Com essa bagunceira factual de vários onzes de setembro (propositalmente desordenados, porque linhas do tempo duronas nada têm a fazer por aqui), não quero, logicamente, desvalorizar nem por um milímetro a dor dos que acabaram sendo vítimas diretas ou indiretas de Bin Ladens e Pinochets. Quero apenas lembrar, com toda a simplicidade e doçura, que: nenhuma data de nosso calendário tão rico, tão vivo, merece ser assinalada somente por Pinochets e Bin Ladens; há hoje aniversariantes de aterrissagem no mundo, de casamento, de formatura, de lançamento de filme e livro, que merecem menos ainda o peso sombrio colado ao número, e ficam sendo desde já herdeiros de cada luz e coloridice histórica que eu puder reunir. Por que eu? Por nada, por ser ninguém, simplesmente por ter me jogado ao trabalho, numa micro-homenagem aos que têm o justo e injusto pudor de mencionar sua data querida. Sei de americanos, por exemplo, que se reuniram em site de discussão e apoio para lidar com o sentimento dúbio de celebrar a existência num dia que sempre lhes será ferida recente. Apesar de não ser americana, não ser chilena nem me enquadrar no grupo dos setembrinos, compreendo o dilema – o quase constrangimento da alegria que pulsa sem excluir a memória, mas a despeito dela. A quase obrigação de preterir as referências boas por interferência arbitrária das maldades. 

Onze-de-setembrinos, caríssimos, eu os abraço. Como infelizmente não me foi dado o poder de desatar o malfeito feito, dou aqui minha humilde contribuição em forma de minilâmpadas históricas. As mortes hão de ser respeitadas e lembradas, porém nenhum dia no mundo pode ser só de morte; a vocês, toda a felicidade devida.

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