terça-feira, 27 de outubro de 2020

Divertida mente


Como vivo comentando e ontem mesmo dei a entender – ao mencionar nossa tendência fofa de procurar o ser amado com os olhos enquanto rimos num grupo –, sou fascinada por coisinhas psicológicas. A gula de informações vai desde o basiquete (feito a constatação das ilusões de ótica) até a deepest web da mente humana (tipo: funcionamento de um serial killer), e creio só não ter cursado Psicologia por absoluta preguiça de qualquer matéria biológica; mas chafurdei na literatura, o que é aparentado em primeiríssimo grau. Nada neste mundo, acredito, consegue ser mais interessante do que o próprio rei do mundo (não, não estou falando de Jack Dawson); nenhum estudo botânico, zoológico, geológico, astronômico supera a sedução de entender os meandros e motivos do planeta de nós mesmos, a criação mais exuberante, mais irresistível. Quais são nossas pulsões, nossas lógicas, nossas logísticas, nossas constantes, nossas variáveis: essa a prospecção de matéria-prima de maior potencial enriquecedor para qualquer um que venda qualquer coisa – ideias, principalmente.

OK, não deixa de ser um pouquinho assustador ficar ciente de alguns mecanismos que nos marionetam todos os dias, de alguns truques persuasivos usados pelos sacadores de gente debaixo de nossos narizes. Mas o susto, a informação jogando aguinha na cara é fundamental para o despertar, para o atingir de uma consciência – consequentemente, de uma independência – razoável, ainda que não consigamos quebrar o feitiço. Já é alguma coisa saber que existe feitiço. Saber que a ordem dos pratos em menus, por exemplo, muitas vezes tem nada de aleatória: é frequentemente pensadinha para que escolhamos algo bem do topo ou bem da base, locais mais atrativos para os olhos. Saber que, se algo foi posicionado no canto superior direito da tela ou da página, alguém está querendo muito de nosso amor e atenção para aquilo, em detrimento da ideia ou imagem chutada para o canto inferior esquerdo. Saber que a nacionalidade do vinho que pegamos no mercado pode ser influenciada pela nacionalidade da música que estiver tocando. Saber que o piso lisiiiiinho e a ausência de relógios no shopping são estratégias para que deslizeeeemos por horas lá dentro sem nos darmos conta. 

Se alguém tenta nos ordenhar um dinheirinho enquanto nos toca no ombro ou nos oferece um chazito, um hot chocolate, é cilada na certa: o toque nos põe mais suscetíveis, o servir de uma bebida quente faz o servidor parecer mais amável. Se alguém nos pergunta algo como "Por que você acha que essa seria uma boa escolha?", já está plantando direitinho a convicção de que essa seria uma boa escolha, por mais que juremos ter decidido sozinhos. Se alguém mais ou menos espelha nossos gestos – cruzar a perna, inclinar-se para a frente etc. –, ou é por estar na nossa, ou por querer que fiquemos na dele. Nosso querido cérebro também se vê muito mais compelido a fazer coisas por quem nos fez coisas (daí ser muito mais provável que um "good cop" levador de lanche para o detido obtenha uma linda confissão); entende como mais insegura uma pessoa que mantém os pés muito próximos, e como mais confiante aquela que os alinha à largura do quadril; tende a segurar o antebraço com a palma da (claro) outra mão quando procura se acalmar ou conter sentimentos ruins; mantém as mãos baixas e as palmas juntas ao se ver estressadito; joga-as para trás ao se avaliar seguro e dominantão. Isso e mais uma caçambada de açõezinhas, particularidades, microexpressões e toda sorte de atalhos físicos – para o que sentimos e para o que nos querem fazer sentir – que honestamente não sei como os especialistas "decoram", mas que eu amaria saber de fio a(té nosso último) pavio. Não acompanhei todinho o Criminal minds à toa; se com nenhuma esperança de ir trampar em Quantico, ao menos com a de descobrir minimamente onde raios estou me metendo ao frequentar o planeta.

Agora, por gentileza: faça o que fizer, NÃO pense num coelho amarelo. Iiiih, escapuliu? tem problema não: eu só queria mesmo testar uma coisa.

Nenhum comentário: