domingo, 29 de novembro de 2020

Dez sinopses que não sei se há, mas poderia haver


Uma autora não tem nadinha definido – nada: enredo, título, personagens, cenários, nomes. Não tem nem pretende. Para os esqueletos dum novo romance, escolhe uma qualquer pessoa na rua, se aprochega, explica, explica, sorri a lábia dos escritores e enfim convence seu ou sua protagonista a se deixar acompanhar, observar, absorver, documentar. E não, a autora não terá com seu ou sua protagonista qualquer romance além do digitado; ambas(os) já moram nas respectivas histórias e se enlaçarão por motivos gerais de humanidade.

Num futuro loguinho-ali, anda bombando uma empresa que oferece serviços terceirizados de pai e mãe. Mesmo. Oficialmente.

Um sujeito manda fazer seus primeiros óculos e, para sua total petrificação, se redescobre violentamente apaixonado pelos olhos e sardas da esposa.

Outro sujeito se descobre violentamente apaixonado pela voz de uma dubladora e não vive mais, só assiste aos trabalhos dela. Amigos em exasperação decidem implorar à dubladora que grave uma mensagem "ordenando" ao sujeito que se cuide. A dubladora fica de crush caído por um dos amigos do sujeito e, plot-twistmente, investe nas altas chantagens. 

Alguém herda a caixinha de música de um desconhecido e precisa cavar explicações.

Alguém é "engolido" por uma biblioteca milenar que, para algumas pessoinhas selecionadas, vai criando corredores e mais corredores à medida que é percorrida.

A tecnologia da nuvem evolui a ponto de se atingir a capacidade de lá guardar coisinhas materiais. Até que o espaço nuvesco passa a ser cativeiro duma jovem sequestrada, e os agentes selecionados para o caso têm de aprender a investigar e se localizar num ambiente impegável, um pouco Matrix, um pouco Tron, com toques de Sala Precisa. 

Um experimento científico faz o rosto das pessoas ir assumindo várias cores, conforme suas emoções reais – o que transforma o mundo num furdunço de gente tentando fugir a essa espécie de polígrafo eterno.

Uma criança jura que a cortina de seu quarto vira bailarina quando ninguém (mais) está olhando. E vira.

Outra criança, quando ninguém está olhando, resolve cálculos complicadíssimos que acha na pasta de trabalho dos pais e que nenhum ser humano da firma entende.

The end?

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