segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Parecenças


Cotonetes na caixa parecem uma jangada de céu margeada de nuvem. 

Botões de roupa parecem minibandejas para quatro microcopinhos de refri. 

Mangas parecem florestas de outono.

Corais parecem cruza do galho com a folha de outono.

Tesouras parecem ratos fazendo balé.

Xilofones parecem arco-íris cantando lullabies.

Extintores parecem bombeiros em arquivo ZIP. 

Vassouras englobam pincéis como pterodáctilos englobam morcegos. 

Esponjas poderiam imensamente ser filhas de queijos com colchões.

Petecas parecem esportes brincando de passarinhos. 

Bolhas de sabão parecem espíritos ancestrais das bolinhas de gude.

Réguas nada mais são que as rodovias do lápis.

(E aviõezitos de papel são mísseis de origami com sérios problemas de autoridade e foco.)

Donuts parecem, tipicamente, pneus dalgum Wonkamóvel; ou boias dum parque de doçuras aquáticas; ou anéis olímpicos overdosados de padaria.

Há tachinhas que são agulhas com chapéu de malandro.

Há bombons que são laços de fita recheados por fada-madrinha.

Flechas parecem, escandalosamente, restos mortais de peixe nadando no ar.

Luvas de cozinha têm parentesco materno com as de beisebol.

Samambaias parecem perucas de clorofila.

Livros empilhados parecem e são escadas.

Cones de trânsito são crias do Chapéu Seletor com candy canes (esse dia foi loko).

Bússolas são relógios com ideia fixa.

Almofadas de carimbo parecem chiqueiro para madeira engravatada.

Broches parecem condecorações do Ministério da Beleza.

Fitas cassete parecem bichos-preguiça transformados em mídia.

Tudo sempre, não mais que de repente, parece o oposto do que eu disse antes.

Tudo no mundo aparenta ser nascido para muita vez não ser a nossa velha opinião formada sobre tudo.

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